sábado, 21 de setembro de 2024

monã monan.

Monã ou Monan é conhecido na crença tupi-guarani como o deus criador do mundo, do céu, da terra e dos seres vivos. A representação de Monã é como algo infinito. 

Monã também é entendido como  "terra sem males" na cultura tupi-guarani 

• Monan é também o nome de um modelo matemático desenvolvido pela ciência brasileira para melhorar a precisão das previsões climáticas e meteorológicas na América do Sul e no Brasil. O nome foi inspirado na ancestralidade e significa "terra sem males" na cultura tupi-guarani.  

 
A imensidão é um oceano sem fim
Ela é uma cuia
A imensidão é um mar nessa cuia
Por vontade de Monã, Deus todo poderoso, o oceano transbordou, se derramando no vazio 
Foi nesse tempo que o vazio deixou de existir
E desse oceano derramado foram surgindo as estrelas, a terra e os seres 

Monã quis saborear seu feito 
Então ele fez um filho e pos ele na Terra nova, Maíra, tembém conhecido como Maíra-Monã. Apesar de viver rodeado por toda a humanidade e todas as formas de vida, estava sempre solitário. 

Um dia se ouviu um barulho ensurdecedor, acompanhado por um calor gigante. Era "tatá-gûasú, o grande fogo, que havia incendiado o mundo. 

Foi nesse tempo que Maíra Monã resolveu ir morar com seu pai. Porém, antes de fazê-lo, deixou uma grande cabaça, com um segredo dentro. Havia 12 furos pequenos arrodeando a cabaça. E nela, 36 penas de Uru'wu Antã, Urubu Rei. Maíra prometeu que aquele que de soubesse dessa Ciência, se purificaria e iria morar também no infinito com ele e seu pai. 

Na Jurema mais próxima da matriz indígena, não existe a Cuia Mestra, principalmente no Rio Grande do Norte, nunca vi, nesses 62 anos de vida. Em nossa cultura religiosa na Irmandade Reino do Vajucá, nós temos a representação de Monã. Essa representação também aparece na direita e na esquerda do Caboclo, na Jurema mais difundida do estado, que é a Jurema de Babá Karol. 

Marcelo Galvão
Padrinho da Irmandade Reino do Vajucá
Extremoz RN

terça-feira, 15 de agosto de 2023

mutum real

Em Casa de Juremeiro só quem assobia é Caboclo 

Nos tempo muito antigo, dizia um índio, nosso povo enfrentou uma grande falta de alimento
Foram pedir a intercessão de Deus Monan, O Poderoso
O Pajé preparou a Jurema e bebeu da ciência e dançou e cantou por três dias e três noites
Já cansado, na terceira noite, Monan se revelou
Está vendo o Cruzeiro do sul?
Esse é o Mutum Real, Pai de todos os mutuns
Vou te ensinar como chamar 
Ele vem depressa ficar
Uns são para comer 
Outros para criar
Mas os da mata não ouse caçar 
Se fores verás que são índios que foram com o pai morar
Mas se na mata estiveres
Sem saber por onde andar
Chame Mutum que se ele vier
Animal feroz não há. 
Daí o pajé ouviu de Monan um assobio do Mutum real
Quando repetiu o assobio
Muitos mutuns vieram dóceis para a ocara - praça, da aldeia
Os mutuns são dóceis
Servem de alimento
Servem de aviso 
Onde tem mutum não tem perigo
Por isso cuidado com o assobio 
O perigo vem pegar o mutum e encontra quem assobiou 
Só o Caboclo sabe a hora certa de assobiar 

História contada por seu Antônio do Boiadeiro Tangerino e registrada por mim. 

Marcelo Galvão, 12 de junho de 1982

segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

os 12 reinos de Jurema e suas aldeias vilas e cidades

OS 12 REINOS DA JUREMA 

Irmãos e irmãs da Jurema Santa e Sagrada 

Paz e Luz 

Existe na rede, desde os tempos do Orkut um texto chamado os 12 Reinos da Jurema, com uma observação de que foi escrito por mim. Na verdade é uma apropriação de um suposto Juremeiro que adulterou o texto original por mim escrito e que muitos de nossos irmãos na boa fé de contribuir com esclarecimentos sobre o culto vem divulgando.
Pensando em colaborar com um pouco do que somos depositários, visto que a Ciência da Jurema é infinita e nenhum de nós saberá o suficiente porque não é nossa mas de nossos Ancestrais Encantados, Caboclos e Mestres. Estou repostando o texto Original. 

Os 12 REINOS DA JUREMA 

1º REINO: REINO do JUREMÁ 

Este Reino pertence aos primeiros catimbozeiros, os que iniciaram o culto de Jurema. Faz parte deste Reino os Caiporas, Curipiras, Mestres Curandeiros, Casamenteiros e Mestras Parteiras. Praticam magia imitativa e simpática. 
É um Reino é governado por Tanuruê
Não acosta porque é a representação de Deus todo poderoso na Seara. 
A Nação Tupínambá está presente, coordenando uma grande parte dos trabalhos de abrimento de caminho e afastamento de encostos. 

Por reconhecimento ao povo Itaguiri e a descendência da Senhora Mestra Maria do Acais, a Mestria de Alhandra é a primeira a ser saudada. 

Este Reino tem a função de melhorar a vida das pessoas trazendo prosperidade, inteligência e despertar a ciência dos discípulos. 
Na árvore da Jurema este reino está na semente. 

Cidade do Juremá
Cidade de Campos Verdes
Cidade da Estrela D’Alva. 

2º REINO: REINO do VAJUCÁ 

Dizem os antigos que este Reino fica na direção norte de quem está no RN ou na PB e quem tem a Ciência da vidência vê no céu quando o dia começa a nascer e isto somente por alguns segundos. Este é um Reino de Muitos Mestres que viveram no RN e redondezas. Há muitos Caboclos e Pretos-velhos neste Reino. Diz-se que o Vajucá está divido em duas partes: Uma tomada por florestas e com muitas tribos de índios “brabos” e a outra metade é constituida por caatinga. Este Reino está sob a direção de Rei Heron que é o Rei dono de todas as doenças e se apresenta com um grande chapéu de palha adornado com uma “franja” de agave desfiada indo até quase a cintura. O Reino do Vajucá é constituídos por Mestres que trabalham com plantas e a própria terra. Sabem fazer remédios com argila e ervas torradas sendo também exímios preparadores de misturas para cachimbo, usadas em diversos atendimentos espirituais. Mestres Roldão de Oliveira, Caboclo-Mestre João da Mata e Mestra Faustina são os representantes das Cidades deste Reino. 

Aldeia Vajucá, 
Aldeia Mata Virgem
Aldeia Arruda 

3º REINO: REINO de ANGICO 

Angico além de ser o nome deste reinado, tambem é o nome de uma árvore muito importante em nosso culto que leva o mesmo nome deste Reino. Este reinado traz o poder da proteção, do fechar do corpo e do espírito, para os males do mundo. Neste local, vários espíritos que se destacaram pela manipulação dos poderes encandados das águas e de feitiços ligados a alma feminina; tais como Mestra Aninha do Ajiló, Mestra Joana Pé de Chita, Mestre Sibamba e tantos outros estão a lutar por nossa segurança. O cachimbo feito de angico é um cachimbo de esquerda, usado para virar os contrários e chamar Mestres de porão. É o Reino de Nanãgiê. Rei do encontro do rio com o mar. 

Aldeia Angico
Aldeia Manacá
Aldeia Catucá 

4º REINO: REINO de TANEMA 

Importante esclarecer que o nome desse Reino se apresenta com duas formas: Reino de Tanema e outros como Reino de Panema. Na Irmandade do Vajucá se chama Tanema porque para nós o panema é uma doença espiritual muito difícil de tratar porque parte de um feitiço feito com espinho de arraia. Panema é um mal súbto, uma doença parecida com o BANZO dos negros, um tipo de depressão causada por encantamento com o objetivo de fazer o atingido definhar. 

Tanema é um reino de transformação e equilíbrio; um reino onde as coisas e pessoas passam e se trasmutam, um reino de renovação. 
Neste reinado encontram-se muitos Curandeiros, Ciganos , e Caboclos da Água. A Nação Indígena predominante é dos Aymorés. Seus trabalhos são feitos a noite sobre influência da lua e mexe com a parte emocional e afetiva. É o Reino das Yaras, das Ondinas, da Rainha Iracema e da Princesa Luziara. 

Aldeia de Tanema
Aldeia Solimões
Aldeia Andirá 

5º REINO: REINO do BOM-FLORAR 

O Reino do Bom Florar é um local onde já estão estabelecidos os vínculos eco-existenciais com os seres animais, vegetais e humanos. É o Reino da cura e da iluminação do Discípulo. É evocado para rezar, colher, escolher e Macerar as ervas, pilar raízes, cascas e sementes. Reino que busca força na Estrela D'Alva da Guia. Grandes curas são feitas com os Encantados, Caboclos e Mestres deste Reino Este reino é repleto de entes iluminados … a maioria dos mestres que trabalham ligados a este lugar, se dedicam a trabalhar em magias curativas. Muitos Catimbozeiros antigos que trabalhavam neste reino não acostavam; usavam a energia mental combinada com a energia espiritual e natural. Muitos os chamavam de cientistas. 

Aldeia Bom Florá
Cidade do Sol
Aldeia Rio Verde 

6º REINO: REINO do TIGRE 

Reino dos Porões. Os porões são passagens deste mundo para o mundo invisível. Se crê que um Discípulo quando parte, desce aos porões onde tudo o que é deste mundo é retirado dele para que o encanto possa evitar que ele fique preso no lado de cá. Quanto mais desapegado for o Discípulo das coisas do mundo, menos tempo demora nos porões. O Discípulo desce aos porões, sobe por um suspiro e vai para o Juremá. Se for ordem de Monã, esse Discípulo descerá por um fio de ouro para trabalhar nas Mesas do Juremá. 

Neste Local estão alocados os índios que foram massacrados, os feiticeiros que foram condenados e torturados por serem bruxos, magos negros, kabalistas e etc … Este é o reino da guerra e do conflito, dele é que tiramos a FORÇA para os trabalhos de “fumaça as esquerdas”, que são rituais onde evocamos o PODER DE ANIQUILAÇÃO impregnado neste reino para diluirmos situações indigestas ou aparentemente intransponíveis em nossa vida. As Cidades deste Reino são chamadas de Distrito. Treme Terra, Pilão Deitado, Quebra Barreira, Canela de Ferro, Caldeirão Sem Fundo, Caboclo Pantera Negra, são deste Reino. 

Aldeia do Tigre 
Distrito de Aninga 
Distrito de Rio das Onças 

7º REINO: REINO de URUBA 

Este Reino é um marco da influencia da cultura africana dentro do Culto da Jurema Sagrada. Tem muitos Pretos e Pretas Velhas trabalhando nele. Reino das Bruxas Juremeiras como Nega Luanda. Neste lugar encontraremos vários Quilombos mistos de negros, índios e brancos foragidos … Nas terras deste reino estão estabelecidos muitos Voduns e Pretos Velhos, além do predomínio de negros de orígem Ewê-fon e Bantus. Foi nesse Reino que foi introduzido o ritual de imolação de animais e as plantações que se assemelham aos assentamentos afrobrasileiros. Tem forte ligação com Rei Malunguinho e o tombo de Jurema. A Mestria desse Reino trabalha com sacudimento, limpeza com comidas, frutos e folhas. 

Cidade de Urubá 
Cidade Barros Troá
Cidade de Laje Grande 

8º REINO: REINO de CANINDÉ 

Este é um Reinado quase que exclusivamente indígena. Dominado pelos Tapuias Canindés, preservam a dança do Toré e dominam o uso espiritual da Maraca (Marca-Mestra) e das penas de diversas aves, cada uma com um poder espiritual. Rei Canindé é um grande guerreiro. As Tapuias são exímias rastreadoras e têm grande habilidade com as zarabatanas. São os vencedores de batalhas e evocados no início das Mesas. Esse Rei é que cuida da Rainha Aurora que é louvada como Arara Canindé ou Aurora Canindé, mãe dos Príncipes Rio Negro e Rio Verde e mãe adotiva do Príncipe Rio Mar. 

Aldeia Canindé 
Aldeia Codó
Aldeia Sete Cidades 

9º REINO DO RIO VERDE 

Este reino é uma ilha de matas densas e virgens; pois na verdade suas cidades encantadas estão debaixo das águas. Também chamado de Reino das Turquias pois fica abaixo de rochedos que emergem do mar e que foram causadores de muitos naufrágios. Todos os Espíritos desse Reino foram de pessoas que se encantaram em colisões de embarcações contra as turquias. É o Reino do povo Mouro e do Reis Mourão do Mar. Reino de magia cigana e força do Oriente. Há muitos Encantados como Botos, Caravelas, Sereias e Marujos. Trabalham com riscados Sagrados (Brazões), pós e a estrela de Davi. 
O Reino do Rio Verde é composto. 

Cidade do Rio Verde,
Cidade do Riacho Bonito
Cidade das Ondinas. 

Quem abre é fecha as cidades deste Reino são: Príncipe Rio Negro, Tertuliano e Tertulino. 

As 12 meninas da Saia Verde vem por este Encanto. 

10º REINO: REINO das COVAS DE SALOMÃO 

Apesar de muitos Ciganos presentes no Reino do Rio Verde, eles também estão presentes no Reino de Salomão e tem trabalhos semelhantes. Reis Mourão do Mar é quem evoca Rei Salomão. 
Neste lugar esta o berço da ciência profética e mística da Jurema. Nele moram os espíritos que são pilares das ciências ocultas e por ele passam povos de mistério para buscar SABEDORIA para suas jornadas, dentre eles Ciganos, Zarthur do Oriente, Rainha de Sabá, João Batista e o Grande Mestre Jesus. 
É um reino de muitos mistérios, onde se trabalham com ladainhas, em silêncio ou cantando … Sua localização muda de 12 em 12 horas; por tanto só catimbozeiros de muita ciencia conseguem contato para trabalhar com os mestres e as energias deste lugar bendito. 
As Clavículas de Salomão são praticadas aqui. É neste Reino que vai ser levantado o Cruzeiro de Luz que é diferente do Cruzeiro Mestre Divino. 

Cidade de Josafá
Cidade da Cruz Santa
Cidade das Clavículas de Salomão 

Muitos Caramurus como o Caboclo Cobra Coral e Sete Flechas, se apresentam por este Reino devido ao fato de que se trabalha também com fogo. 

11º REINO DO ACAES 

Este é o marco do Reinado dos Mestres na terra, lugar onde se iniciou e se firmou os compromissos com os primeiros Mestres que desceram por um fio de ouro. É o único Reino que possui sete Cidades plantadas aqui na Terra. Mestra Maria do Acais, Mestre Inácio de Oliveira, Mestre Flósculo, Mestre Zezinho do Acais, Mestre Carlos, Mestre Heron, Mestra Rosalina, Mestre Manoel Cadete, são reverências que fazemos as nossas origens. 67 Mestres se apresentam neste Reino. Fora as Sete Cidades que estão em Alhandra, existem três Cidades. 

Aldeia Pitiguari 
Aldeia do Lírio 
Aldeia do Junçal 

12º REINO: REINO de TRONOS 

O ultimo e mais misteriosos dos reinos. Nele se encontram os Reinados, Tronos e potestades do mundo espiritual… Local onde vivem e trabalham os Anjos. Reino do Plano Celeste. Neste reinado trabalham-se com o Poder Divino, através de uma outra forma mais sútil da magia; o que para os esotéricos seria onde se guardam os Dogmas da Alta Magia. Reinado fonte da Purificação humana. 

Na Mesa de Tronos não se consagra Discípulos que acostam; somente Curupiros. 
O Cruzeiro Mestre Divino é levantado na Ciência deste Reino. 

Cidade de Tronos 
Cidade de Potestades 
Cidade do Arcanjo Gabriel. 

Marcelo Nunes Galvão, em 21 janeiro de 1978, após a Mesa de Caboclo nas Matas de Peixe Boi - Natal RN, dia 20, dia de São Sebastião.

domingo, 3 de julho de 2022

curupiro

A Ciência dos Curupiros 

A Ciência Sagrada da Jurema é um saber espiritual revelado aos Discípulos dela através de vários caminhos e etapas 

1. Primeiro ela é revelada 

Seja através de sonhos, de recados de rua, de rosários, oráculos específicos ou pelo transe do Mestre Acostado 

2. Segundo ela é compreendida 

Pela reflexão, pela ajuda dos mais velhos ou pela intuição 

3. Terceiro ela é praticada 

Através das várias formas de ritos já estabelecidos pelos que trilharam o caminho antes de nós. 

O Curupiro não é Ogan e nem Ekedje, o Curupiro é aquele que tem o corpo de menino ou onde os Meninos, termo usado antigamente para designar os Mestres dos invisíveis, vêm brincar. 

(*) Devido as perseguições, os Catimbozeiros usavam a frase "os Meninos vinham brincar" , daí as pessoas sabiam que ia ter sessão. 

Os Curupiros não acostavam, mas tinham Ciência e muitos se tornaram Catimbozeiros famosos com o nome de Cientistas 

D. Juvina em Mossoró 
Meu Padrinho Sr. Reinaldo 
Sr. Manoel da Ciência 
Cientista Fernando
Mestre Joaquim Cardoso
Cientista Moreira
Manoel do Rosário 
Manoel do Copo
e tantos outros 

O termo Curupiro era usado indistintamente para homens e mulheres. Eles trabalhavam com a vidência, cartas, príncipes, princesas, bola de cristal e rosários. 

Começavam como todo mundo, ajudando a cuidar da Casa e a servir os Mestres. 
Quando o Ilu foi introduzido nas sessões, muitos deles foram consagrados para um Caboclo Guia e também recebiam afirmação do Caboclo Viramundo. 

M. N. Galvão, em 02 de julho de 2022

quarta-feira, 15 de junho de 2022

oba osi

Obasi! Obasiré! Obasésé. 
O lado esquerdo (Osì) sempre esteve relacionado à mulher e por uma razão muito elementar, é o lado do coração. 

Quando Obá é saudada como guardiã da esquerda (Obasi), isso quer dizer que é a guardiã de todas as mulheres, aquela que compreende os sentimentos do coração, pois Obá pensa com o coração, por isso dança sempre com a mão esquerda apontando para o lado esquerdo na altura da orelha, poder genitor feminino, rainha em África da sociedade Elecô, onde homem não entra para não seduzir as grandes amazonas de Oba. 

Obasésé também é o seu título, pois é responsável pelo culto a ancestralidade feminina, também camada de IYAMI pela sociedade Elokan Géledé, ou simplesmente Elekó que não cultua a ancestralidade masculina, deixando esta função para Xango. 

Estes dois Orixás são os responsáveis pelo culto do Asésé (AXEXE). Obá é um ORIXÁ que raramente se manifesta, principalmente no sexo masculino, onde a iniciação para este Orixá ainda é rodeado de mistérios e tabus, muitos sacerdotes temem cultua-la e erroneamente deixam de iniciar um filho para esta misteriosa Iyabá, com uma simples e infundada desculpa – “Obá não pode manifestar em cabeça masculina”. Confundindo a expressão "Oba não cultua a ancestralidade masculina". 

Oba também é saudada como Obasire, pois a roda do candomblé que é formada e denominada de sire "Xirê" lhe pertence e serve para organizar o culto entre os Orixás mais novos e os mais velhos, assim também como a rígida hierarquia dos membros de um Terreiro de Axé. 
Em respeito a criação do Sirê, todo o Povo de Santo e até mesmo os Orixás, dançam no sentido anti-horário, oferecendo o seu lado esquerdo "lado do coração" ao OpóAxé, "mastro central do terreiro, homenageando nossa grande Mãe Ayabá Obasire. 

Ile Asè Ijino Ilú Orossi. Muito Axé Hoje e Sempre. Babá Lokanfu. Toluaye.

quarta-feira, 9 de junho de 2021

três castiçais

Pelejei... tô pelejando
Como um gavião no ar 

Pelejamos na Jurema porque somos fortes como um gavião
Somos fortes porque temos sementes plantadas em nosso corpo 

Três velas acesas
Três castiçais 
Três moças de branco são três generais 

As três guardiãs
As três Marias
As que desceram ao sepulcro de Jesus
Acompanhando Maria 

Elas levam os três castiçais
Elas queimam mirar
Elas purificam a casa 

Maria de Cleófas, tia de Jesus, irmã de Maria. Abrigou Maria após a morte de José. É a Maria do acolhimento. Seu dia é 9 de abril. 

Maria de Magdala, a que acompanhou Jesus e depois a Maria. É a Maria que acolhe os arrependidos e os cura com uma pomada de mirra. Segura o segundo castiçal. Seu dia é 22 de julho. 

Maria Salomé, a que alimentava os Discípulos que seguiam Jesus. Na Jurema, reza para que a semente plantada em nosso corpo frutifique. É a que carrega o terceiro castiçal. Seu dia é 22 de outubro. 

A beleza da Jurema é resignificar as coisas do Catolicismo popular sem precisar ser católico para isso. A própria Igreja Católica não vê com bons olhos o catolicismo popular, porque acreditam estar cheios de heresias, de superstição e influências pagãs e que foge das tradições dogmáticas. 

O Juremeiro celebra essas três datas limpando a casa benzendo todos os cantos, em seguida soprando a "mistura" de cheiro em todos os quatro cantos de cada vão,  terminando na porta da rua. Lava todos os instrumentos da Jurema e acende um turibulo com a mirra e deixa na porta de entrada. 
À noite, se canta a mesa  no final se distribui pão, frutas, chás, café, bolos etc.

OBSERVAÇÃO 

Isso é Ciência de alguns Juremeiros. Não praticar essa Ciência não quer dizer que a  pessoa está errada pois cada um tem sua Ciência e sua herança recebida dos seus mais velhos. 
O motivo de eu escrever esse texto é para mostrar quanta diversidade há na Jurema e que podemos ser todos unidos dentro dessas diferenças. 

Eu vos saúdo com Paz e Alegria. 

Marcelo Galvão
09 de Junho de 2021

segunda-feira, 17 de maio de 2021

os cinco caminho da árvore Jurema.

Como prometido: o texto da Jurema com todos os direitos reservados. Podem compartilhar citando a fonte.

O símbolo do catimbó é a árvore Jurema. Símbolo de força, energia e poder Divino. Da árvore Jurema se retira sementes para consagrar os seus Discípulos, troncos para levantar no mundo material representações dos Mestres do além. Da folha, sumo para atrair coragem. A casca da árvore serve para banhos de descarrego. A raiz serve para preparar a bebida que possibilita o transe sagrado. 

OS "CINCO" CAMINHOS QUE A JUREMA  TEM 

A Jurema Preta (Mimosa hostilis) é uma árvore da família das Acácias. De grande importância para o Juremeiro. Essa espécie traz toda a fundamentação para este culto de origem xamânica nordestina que cada vez mais tem tomado forma de religião.  Dentro da pajelança sua importância estava no vinho retirado de suas raízes que contém um princípio psico ativo que uma vez ritualizado e bebido abriam-se portais para o mundo dos Encantos e da Ciência espiritual soprada pelos seres dos invisíveis. Essa ritualização elevou essa espécie de acácia ao estatus de sagrada, onde cada parte dela representa um caminho. Essa noção chegou as mesas de Senhores Mestres onde a Jurema é empregada em muitas funções terapêuticas. 

Cada compartimento da árvore Jurema, são caminhos e moradias de espiritos que representam toda a prática  do culto. Esses compartimentos ou partes tem seus elementos místicos e espirituais usados pelo Juremeiro em trabalhos. A árvore se divide em cinco caminhos, que vão da raiz às sementes. 

1) A raiz
2) O tronco
3) As folhas
4) As flores
5) As sementes 

"Subi por um suspiro, desci por um fio de ouro, abrindo nossos trabalhos, guardando em um tesouro" 

É preciso passar pela provação para voltar fortalecido, coroado de êxito e se responsabilizar pelos trabalhos da Jurema que são aguardados como um tesouro. 

O trabalho da Jurema ninguém pode saber (os leigos e curiosos),  é como trabalho da abelha, trabalha e ninguém vê. 

Se diz que para entrar na Ciência Sagrada do Juremá, a pessoa primeiro desce aos porões onde se depara com a escuridão. Mestres de esquerda, hábeis em saberem quais as intenções de quem quer adentrar nos mistérios, lá estão a espera. É na raiz aonde vamos encontrar a purificação e os espiritos mais pesados, os "capangueiros" os "Mestres Quimbandeiros e/ou Esquerdeiros", ... Por um suspiro a pessoa emerge para os invisíveis. ESTE É O PRIMEIRO CAMINHO. 

Através do suspiro ela chega ao tronco da Jurema. Aí é onde ela se fortalece. Os Mestres que aí estão ligados são aqueles que vêm para trabalhar na mesa do Juremá. São fortes,  verdadeiros, as vezes brincalhão, noutras vezes, rígidos. Eles sabem exatamente a missão que carregam perante aqueles que vêm buscar socorro dos Encantos. Eles também sabem e reverenciam o que sustenta a Jurema, a raiz. É lá que está a Senhora Rainha. 

Lenda da Jurema 

Conta-se que um bravo guerreiro Tabajara, chamado Abaturuna se apaixonou perdidamente por uma jovem e bela índia chamada Yurema. A chamavam assim porque ela era arredia e sempre amarga e não fazia amizades com ninguém. Ela foi encontrada na mata, bebê, por um grande Pajé Tabajara. Era de uma beleza ímpar, branca como a lua, olhos e cabelos negros como a noite. Cedo ela revelou muitos dons; conseguia viajar no pensamento, visitava as aldeias do mundo invisível, falava com os Espíritos Encantados nas matas e com os antigos Deuses. A seu pedido, seu pai adotivo fez uma oca para ela morar sozinha, assim ela poderia se dedicar a sua arte mágica, curando doenças, picadas de animais peçonhentos, ferimentos, doenças de espíritos, etc.
O jovem guerreiro a amava em silêncio. Não ousava se aproximar porque ela era sempre reservada e isolada. Ela sabia do amor que ele nutria, ela também o amava, mas sabia que esse amor nunca poderia ser cumprido. Yurema era filha de Jaci a lua com um índio e para fugir da ira de Coaraci, seu marido, ela a deixou na mata para que fosse criada pelos índios. Por isso que Yurema tinha tantos poderes, por ser filha de uma Deusa. Um dia Abaturuna sentindo que nunca iria realizar seu amor, resolveu partir desse mundo. Rumou para a mata sem suas armas disposto a morrer. Yurema sentiu o que ia acontecer e foi atrás dele. Encontrou-o triste esperando a morte chegar. Ela se encheu de coragem e revelou que também sentia um grande amor por ele. Nesse momento se entregaram um ao outro vencidos pelo amor que sentiam. Do céu Coaraci então descobriu o fruto da traição de Jaci e partiu para mata-la. Desesperada Jaci implorou a Tupã que a ajudasse. Tupã compadecido a transformou numa raiz que fez surgir uma bela árvore, a Jurema. Seu jovem e valente amor virou os galhos espinhentos para que Coaraci não pudesse atingi-la e assim Yurema ficou protegida e guardada e continua revelando os mistérios dos invisíveis a quem bebe de seu licor, a dona da Ciência do Juremá. 

Lenda ouvida do meu Padrinho Reinaldo Ribeiro dos Santo. 

O Jurema Encantada, que nasceu de frio chão. Dai-me força e Ciência, como deste a Salomão. ESTE É O SEGUNDO CAMINHO. 

Do tronco da Jurema, saem os galhos, que abrigam as folhas em meio aos espinho. Eis o lugar de domínio das Mestras. Elas não trabalham com a força.  Trabalham com a persistência ecom a paciência em meio às adversidades;  são hábeis em usar o poder feminino para atingirem seus objetivos. Elas mantém a árvore em pé porque sabem se dobrar ao vento, a chuva e a seca. Elas murcham as folhas em tempo de muito calor e seca para que a Ciência volte para o tronco e raiz. Por essa capacidade são conhecidas como as Donas do Trono. Os banhos e mirongas feitos das folhas e das cascas são um atributo delas. Elas que devem ser evocadas nesta hora. Existem Mestras especialistas em várias problemáticas dos seres humanos, como parto, cura de doenças crônicas, perturbações espirituais e mentais, casamentos fracassados, desempregos, desmanche de magia contrária,  etc. São as Mestras com a sua capacidade de conquista que adoram o Cruzeiro Mestre Divino. ESTE É O TERCEIRO CAMINHO. 

A Jurema brota da terra seca com muita força e poder e essa força e esse poder quando mal utilizado leva a uma série de perturbações. Diziam os antigos que a medida do querer nunca se enche. O poder corrompe. Desvirtua o caráter e leva a uma ambição desmedida e em alguns casos até criminosa. A Ciência da Jurema é tão maravilhosa que nos deu o equilíbrio. O equilíbrio da Jurema são as Princesas. Elas são comandadas pela flor da Jurema. São representadas por taças translúcidas com água cristalina. São os Espíritos mais puros da jurema. 
Bom fazer um lembrete de que existem Mestras que são elevadas a categoria de Princesas, mas por outros motivos. 

Ao lado delas, mas soltos da flor estão os príncipes que transportam a Ciência para outros Discípulos ou para novas árvores que vão ser semeadas. Um não existe sem o outro, porque senão a Ciência não se multiplicaria. São representados por copos também translúcidos e de água cristalina. Os Príncipes são os que abrem a vidência para as Princesas predizerem a situação dos consulentes, em quem trabalha com esse tipo de oráculo. 

Eles e elas são inúmeros e cada Juremeiro os representam de acordo com suas Ciências recebidas. ESTE É O QUARTO CAMINHO. 

Da floração da Jurema vem a vagem carregada de sementes. Aí se encontram os Espíritos mais antigos da Jurema, conhecidos como Reis e Rainhas. Este título que os Juremeiros dão é pelo poder e autoridade que a semente da Jurema tem de ensimentar, consagrar e coroar um Discípulo, unindo-o com a Mestria. Sabemos que uma pessoa para trabalhar com um Mestre não precisa ser consagrada, mas quando ela é consagrada, fica protegida de espíritos embusteiros, mistificadores, que não são da família espiritual dele, fechando uma corrente para que ele não receba uma infinidade de Mestres e Caboclos e outras Entidades. O Consagrado, passa a fazer parte de uma corrente ancestral que o liberta de espíritos de mortos. O Consagrado não morre, se encanta, na Ciência. ESTE É O QUINTO CAMINHO. 

Por setenta anos pelejamos na Jurema para que nos dominemos sem ninguém nos dominar. 

Acima no céu é Deus 
Em cima da terra o Mestre 
No meio as águas que tudo cortam
Na força do pensamento
Vai pra Jurema Jandaia
Todo mal que se corta é com a fumaça 

Discípulo Mestre Jaguar - Marcelo Galvão 

"Seu Marcelo, na Jurema tudo se aproveita, da rais até as sementes. 

Sr. Geraldo Guedes". 

(*) a base para formação deste texto foi uma abençoada conversa com um dos Grandes Mestre da Jurema, Senhor Geraldo Guedes. 

Em 17 de maio de 2009