No Benim, existe uma classe de voduns denominados “Voduns Reais”, formada pelos antigos dirigentes do Dahomey e pessoas da corte que, em vida, realizaram grandes feitos. Dentre estes voduns, os de maior status são os pertencentes à família real de Abomey, sendo ancestrais divinizados. Em geral todas as famílias possuem em suas casas espaços consagrados a adoração de seus ancestrais.
Por ocasião da morte, os vários ritos fúnebres permitem ao morto integrar-se ao seu novo mundo. A família presta homenagens aos mortos em sinal de respeito, submissão e luto. Alguns pertences são enterrados junto com o morto para que não se torne “impotente” em sua nova fase da vida, acarretada pela morte. São feitas muitas oferendas, que serão divididas em três partes; uma parte será enterrada com o falecido, outra parte será divida entre as crianças e ainda uma outra para os chefes de cerimônia. Nas cerimônias reais, ao morto são oferecidas algumas regalias que serão enterradas com ele, como guarda sol, pequenas cadeiras, etc.
Os tambores ao toque de sató homenageiam os mortos. São tocados com duas varetas curvas, uma simbolizando o macho e a outra a fêmea. Enquanto os tambores cantam, mulheres velhas cobertas de lama, usando colares de ráfia, assumem o papel de viúvas. Elas vão para a fonte sagrada chamada yatonou (yató-nu) para purificar-se (elas lavam a lama) e adiam a morte e as maldições.
O morto não recebe o rito fúnebre, não havendo fase de “separação”, ele pode continuar a passear entre os vivos e assombrá-los.
A próxima fase tem como objetivo recriar a sua identidade e é transformada em antepassado. Este novo status vai permitir aos mortos participarem na vida da comunidade e serem vistos como guardiões da tradição. A sacralização do ancestral é feita com a criação de um altar denominado “Assen”. O Assen é uma espécie de bengala de ferro, adornado com várias figuras e desenhos e serve de altar portátil para o ancestral. Algumas vezes o Assen perde seu caráter de bengala e conserva a somente o de altar sobre o qual se fazem as oferendas aos ancestrais. Cada Assen serve apenas para um ancestral, mas, às vezes, um único ancestral possui mais de um Assen ofertado por várias pessoas e membros da família. Ao se tratar de um rei ou pessoa importante, este altar é sobremontado.
Ao contrário, porém, dos mortos familiares, que são particulares de cada família, o culto Real ganha status populacional, sendo que estes ancestrais são divinizados e tornados Voduns mortos e são cultuados antes mesmo que os Voduns Hevioso, Mawu-Lissá e Dan, sobrepondo assim o poder da família real.
Os Voduns Reais se dividem em três categorias principais:
1) Axosu ou Ahosú (lê-se arrôsú): são os antigos reis mortos;
2) Nesuxué ou Nesuhue (lê-se nêssurruê): príncipes e princesas mortos;
3) Tòxosú ou Tohosu (lê-se tôrrosú): crianças deformadas e mostruosas filhos de reis;
Os primeiros a serem louvados nas cerimônias são os Ahosu, os reis antigos. A corte canta os feitos destes reis em sua passagem pela terra.
Após o culto de Ahosu, são louvados os Nesuhue – príncipes e princesas – o príncipe nesuhue, de espada na mão, vestindo as roupas dos príncipes de outrora, em passos de dança reservada para os reis e príncipes mostra sua força, bravura e real invulnerabilidade.
Por fim, é chegada a vez dos Tohosu (cujo nome significa “rei das águas”) que são as crianças nascidas anormais. Geralmente cada Ahosu tem um ou mais Tohosu. O mais importante deles é Zomadonu, filho do rei Akaba, seguido de Kpelu – filho do rei Agajá e primo de Zomadonu, e Adomu filho do rei Tegbesu.
No Brasil, o culto de voduns reais ou pelo menos traços dele, se encontram somente na Casa das Minas, fundada pela rainha de Abomey – Ná Agontimé, consagrada ao vodum Zomadonu.
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