TÒHOSÚ
Existe na região Mahi, ao longo do Rio Uemê e em Abomey, uma categoria de voduns chamados Tòhosú (Toxosu).
Acredita-se que quando Tòhosú vem à terra manifesta sua imagem no corpo de uma criança anormal e monstruosa. Dizem também que para um Tòhosú vir a Terra é sinal de descontentamento. Antigamente era costume, quando crianças anormais nasciam, eram afogadas para que fossem “devolvidas” a seu reino, pois a palavra Tòhosú significa “Rei das Águas”.
Os Tòhosú da familia real (Família Davice, da Casa das Minas) são considerados voduns muito importantes, pois estes são filhos de reis e reverenciados nos cultos de Nesuhue (Nesuxwé) – instituição religiosa baseada no culto dos ancestrais divinizados da família real de Abomey, os dirigentes do antigo reino do Dahomey.
Em Abomey a tradição diz:
“Akabá, rei de Dahomey, tinha tido um filho anormal. A gravidez da rainha Kuandê tinha sido dolorosa e agitada, se manifestando por duas vezes no dorso, duas vezes no peito, parando em seguida por nada sentir. A parteira ficou espantada quando viu o menino Zomadonu, porque ele tinha seis olhos – dois sobre a fronte, dois atrás da cabeça e dois no peito. Tinha dentes, cabelo e barba e desde o seu nascimeto se pôs a falar e caminhar. No dia seguinte ele entrava a engordar e desaparecia e rolava por terra como uma bola e declarava que era Zomadonu. Horas depois ele estava transformado em um grande pássaro entregue à pescaria no pântano e cantava traduzindo o seu nome. Em certas ocasiões estava de novo como homem. Todos ficavam apavorados com estas manifestações.
O Rei Agajá, irmão e sucessor de Akaba, também teve um filho anormal chamado Kpelu. Tinha vinte dedos, sendo dez em cada mão, dois olhos normais e dois sobre a nuca. Nascera com dentes e grandes cabelos e tinha o dom de predizer o futuro. O Rei Tegbessu, sucessor de Agajá também teve um filho anormal, Adomu, que possuia quase as mesmas características de Kpelu, era caprichoso e diz que queria cortar o nariz das pessoas.”
Há também uma lenda que conta que Zomadonu, junto de Kpelu e Adomu, invadiram o Abomey liderando um exército de tohosus matando indiscriminadamente os cidadãos que fugiram apavorados, ficando apenas um homem chamado Abadá Homedovó, que sofria de elefantíase.
A vida do homem foi poupada, graças à amizade que ele tinha com Azaká, um tohosu da cidade de Savalu. Ele foi curado por Zomadonu, e ensinado por ele nos mistérios para se propiciar a boa vontade dos tohosu reais. Após isso, o exército dos temíveis pigmeus monstruosos abandona Abomey, entrando no rio. E com Abadá Homedovó começa o culto dos tohosu reais de Abomey, com Zomadonu sendo o principal deles. Hoje, no Benin e em Togo, as crianças que nascem com má formação física ou deficiências mental têm uma cerimônia especial e, em suas casas, um pequeno altar é consegrado aos Tòhosú. Assim, em vez de trazerem desgraças financeira e emocional às suas famílias, trazem bençãos. Aqueles que ficam incapacitados devido a idade, ferimentos ou doenças, também ficam sob a proteção dos Tòhosú.
Na Diáspora, o nome de Zomadonu é conhecido tanto no vodu haitiano, como no Tambor de Mina de Nação Jeje, onde é o patrono do terreiro Casa das Minas, também chamado de ‘Kwerebentan to Zomadonu’ (Querebentã de Zomadonu) em São Luís Maranhão.
Curiosamente, no Maranhão, Zomadonu não possui caracteríticas de Tòhosú, ou seja, deformação física. Zomadonu é o mais importante vodum do Reino do Dahomey, é considerado nobre pertencente a família real de Davice ou Danvice, que é chefiada pela mãe ancestral Nochê Naé. Zomadonu também é pai dos gêmeos Nagono Toçá e Nagono Tocé. Zomadonu é o primeiro vodum a ser homenageado nos toques de tambor da Casa das Minas.
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