segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Igba

7 de outubro de 2014 ·
Significado de um Igbá

Na religião Yorùbá, Igbás (awọn igbá) são assentamentos de orixá (òrìṣà). Um assentamento é uma representação do orixá (òrìṣà) no espaço físico, no mundo, no aìyé. Sob o ponto de vista sacro não existem representações humanas de orixá (òrìṣà).
A religião Yorùbá não tem imagens para representar suas divindades, o que representa uma divindade é o seu Igbá, ao olharmos um Igbá é como se estivéssemos olhando para a divindade. Secularmente existem representações em forma de desenhos e esculturas mas que são frutos apenas de criatividade de artistas e não tem uso sacro.
Os orixá (awọn òrìṣà) são adequadamente representados por símbolos e grafismos próprios de cada um e por extensão por outros elementos como folhas, arvores, favas e contas. Mas o Igbá é a sua representação mais adequada.
Vale refazer a afirmação, já explicada em outro material, de que o orixá (òrìṣà) não são elementos da natureza, assim “olhar” o vento não significa olhar para oya, olhar uma pedra não significa olhar para Xango (ṣàngó), olhar para o mar não significa olhar para yemoja, etc..
O mesmo sentimento que um católico tem ao olhar para uma imagem de um santo em sua igreja e altar, o povo de santo tem ao olhar para um igbá. É muito comum as pessoas, nos seus quartos de santo, “vestirem” seus Igbá com suas roupas de orixá (òrìṣà) como se fosse o próprio orixá (òrìṣà). Contudo, igbá são de acesso muito restrito, de uso exclusivamente sacro e ritualístico, não tem visibilidade pública e ficam guardados dos olhos de todos.
Dessa maneira, cada Igbá representa uma divindade através de um continente (Vaso, invólucro, recipiente) e seu conteúdo, e esse conjunto, continente e conteúdo é específico de cada divindade. Esses continentes podem ser de porcelana (substituindo cabaças), barro ou madeira e serão empregados distintamente para cada divindade que ele representa. São usados elementos físicos comuns, como tigelas, sopeiras, pratos, bacias e alguidares.
O iniciado no seu processo de feitura (que é distinto de uma iniciação mas muitas vezes essas expressões se confundem) poderá receber um ou vários Igbá, dependendo do seu status na religião e da própria tradição da casa em conduzir este ritual.
Mas o igbá não é o orixá (òrìṣà) no aìyé. Essa religião não coloca um orixá (òrìṣà) dentro de uma sopeira, não é uma religião animista. O igbá representa apenas a ligação entre os 2 espaços, o espaço físico aìyé e o espaço espiritual o Orun (ọ̀run). É uma “ponte” entre os 2 espaços. Sua função não é trazer o orixá (òrìṣà) para o aìyé porque os orixá (òrìṣà) já estão presentes em nossa vida o tempo todo, não existe secularismo na religião. Sua função é completamente ritualística.
O igbá é, de fato, dentro de toda a religião Yorùbá uma dos elementos mais importantes e significativos por traduzir a contínua relação entre o Orun (ọ̀run) e o aìyé. Ele representa o reconhecimento da existência do espaço espiritual, o Orun (ọ̀run), e a ligação perene que existe entre os 2 espaços (ọ̀run-aìyé) na forma de um contínuo duplamente alimentado e da circulação, transformação e reposição de axé (àṣẹ). Dessa maneira o seu valor não esta somente na sua existência como instrumento ritualístico, como foi ressaltado no início, mas também no que ele representa.
Toda religião tem símbolos e simbolismos. Uma cruz para os católicos representa muito também: todo o significado da paixão e do sacrifício de Jesus. Assim esse símbolo traduz em sí muito mais do que somente a lembrança da crucificação de Jesus e sim um todo da sua doutrina, poderíamos falar muito apenas olhando para uma cruz. O mesmo vale para um Igbá. Nada é mais sagrado por sí só pelo seu uso e nada pode traduzir tanto da doutrina que cobre a religião Yorùbá como o entendimento da sua função.
O Igbá é uma manifestação de Fé, e por isso um reconhecimento de nossa Fé na religião. De acordo com a metafísica Yorùbá, para tudo que existe no aìyé existe um duplo no Orun (ọ̀run). O Igbá é um elemento de ligação entre essas 2 porções e um instrumento de concentração de energia. É usado para nos ligarmos às divindades, liga o físico à dimensão espiritual, a dimensão aìyé à dimensão Orun (ọ̀run).
O objetivo de um Igbá é potencializar a ligação Orun-aìyé (ọ̀run-aìyé) sendo o instrumento que no aìyé representa o duplo do Orun (ọ̀run). O Igbá esta vinculado diretamente à uma pessoa no aìyé mas não a representa e sim ao duplo do Orun (ọ̀run). Como já foi dito ele não armazena um orixá (òrìṣà), ele não é uma lâmpada mágica que esfregamos para dali sair um orixá (òrìṣà). Ele é a ponte de ligação direta entre o aìyé e o Orun (ọ̀run) entre o iniciado no aìyé e suas energias e divindades no Orun (ọ̀run).
Um dos principais usos que se dá a ele é receber os Ebós (ẹbọ), que são sacrifícios de todo o tipo, entendendo que o sentido de sacrifício na religião não envolve o uso de sangue em sí. Um sacrifício por ser qualquer oferenda que vai se converter em axé (àṣẹ). Um Obi é um sacrificio, um Acaça é um sacrifício e pode substituir um boi.
Esse aspecto de participar ativamente de Ebós (ẹbọ) é uma finalidade muito importante, mas não imprescindível. Não se precisa de uma Igbá para fazer uma oferenda, mas, todo sacerdote tem e usa os seus para isso. Isso tem todo o sentido, sendo o Igbá um elemento de ligação ou de potencialização dessa ligação como esta sendo dito realizar isso junto a eles é fazer esse instrumento funcionar.
Em outro material esta muito bem explicado essa questão do Ebós (ẹbọ) mas é importante lembrar que um Ebós (ẹbọ), uma oferenda é um parte de um processo de transmissão e reposição de axé (àṣẹ) e os elementos utilizados são transmutados em energia, em axé (àṣẹ).
Dessa maneira ao se fazer isso através de um Igbá esta se fazendo chegar ao duplo do Orun (ọ̀run) referenciado por aquele Igbá a transmutação da energia dos elementos afins a ele que foram usados no sacrifício.
O ponto que esta sendo ressaltado é que o Igbá em um Ebó (ẹbọ) é o instrumento que direciona, potencializa e agiliza a este ase chegar ao Orun (ọ̀run). O Igbá não é um instrumento para “alimentar” o iniciado no aìyé.O Igbá pode ser coletivo ou individual. Quando coletiva chama-se Ajobó (ajọbọ) e liga uma comunidade a sua comunidade espiritual, ao coletivo que ela representa e a divindade que a protege. Quando individual liga a pessoa ao seu reflexo no Orun (ọ̀run).

Do que é feito um Igbá?
O Igbá é feito usando materiais que estão ligados à divindade que ele representa. Assim o material e o seu conteúdo ajudam a estabelecer a relação, devendo ser utilizados sempre elementos completamente afins com a divindade e que traduzem a matéria original do Orun (ọ̀run). Conhecer essas relações e afinidades é parte do aprendizado de um iniciado durante sua vida e somente aqueles que as conhecem terão verdadeiro sucesso no seu trabalho ritualístico.O principal elemento dentro de um Igbá é a pedra, o okuta. Acima de todos os demais componentes ela receberá todo o trabalho ritual de preparação e por essa razão muitos dizem que é a única coisa importante, todo o demais é apenas decorativo. O pedra para os Yorùbá significa a longevidade a existência perene.
Os demais elementos fazem parte do enredo do orixá (òrìṣà) de maneira que não são apenas decorativos. Entretanto muitos itens que são colocados em um igbá pode ser meramente decorativos.
Os demais elementos em um Igbá variam entre metais, favas, folhas e outros materiais que remetem ao orixá (òrìṣà) original. O elemento escolhido para o continente do Igbá também terá relação direta com ele. Tudo dentro de um Igbá é feito para traduzir a matéria original do Orun (ọ̀run) que foi materializada no aìyé através do iniciado ou da comunidade que o Igbá representará.
A escolha de cada elemento depende de para quem será feita a ligação. Cada orixá (òrìṣà) tem os seus elementos correspondentes no aìyé. Adornos e enfeites exteriores que apenas agradam ao ego de quem faz não ajudam nisso. O importante são as folhas, as favas, os metais e outros elementos genéricos como os búzios. Entendo que moedas, muito presentes, deveriam ser representadas apenas pelos búzios, que eram dinheiro, mas muita gente coloca mais como um desejo de prosperidade do que um elemento de ligação de fato. O material do recipiente externo é escolhido entre algumas opções. A cabaça é substituída pela porcelana branca para os orixá (òrìṣà) fun fun, o barro e excepecionalmente a madeira para um orixá (òrìṣà) específico. As cores desses materiais e elementos decorativos vão compor esse conjunto de forma harmoniosa. Para os caso das cores existe muita criativade. Os Yorùbá reconhecem apenas 3 cores, o branco, o vermelho e o preto. Todas as demais cores são elementos de uma dessas 2 famílias e as representam da mesma maneira. Assim o verde e o azul são elementos da cor preta. O amarelo do vermelho e por assim vai.Todo Igbá individualizado é composto de um recipiente com tampa (continente) contendo a pedra, okuta, o núcleo do Igbá e os demais elementos com água, óleos e outros elementos líquidos. O igbá sem tampa são usados em assentos coletivos, não individualizados, eventualmente casas e axé (àṣẹ) podem fazer variações disso.

O vínculo Ọrun-aìyé

Uma questão importante quando falamos de Igbá é o que ele traduz de fato e a questão de a quem pertence e o que ele traduz . Como explicado, já extensivamente, é um elemento de ligação e pode ser coletivo ou individualizado, mas, como explicado nunca é o orixá (òrìṣà) no aìyé.
Os aspecto coletivo-indivíduo também é uma das características marcantes da ritualística da religião. Estamos todo o tempo lidando com essas 2 faces do divino que é coletivo como todo o divino, mas, para os iniciados, os sacerdotes totalmente individualizado em sua manifestação.
O exemplo mais individualizado possível do divino é o doIgbá ori. Nada é mais próprio, pessoa e individualizado do que um Igbá Ori. Seguindo o que repetimos a exaustão, oIgbá é a representação no aìyé do duplo no Orun (ọ̀run), o ori no Orun (ọ̀run) a divindade pessoal, que esta no Orun (ọ̀run) e nos protege, guia nossos passos, abre e fecha nossos caminhos e esta acima de qualquer orixá (òrìṣà) em nossa vida. Não representa o Ori que está no aìyé uma vez que esta resida na própria pessoa. Usamos o Igbá ori para chegar ao Ori no Orun (ọ̀run) o duplo por excelência. No processo que chamamos de Bori a oferenda ao Ori, o processo de reposição de axé (àṣẹ), duas entidades serão alimentadas com axé (àṣẹ) o duplo do Orun (ọ̀run) e o Ori que esta no aìyé.
O Igbá Ori nesse processo e durante o processo, é criado e é por excelência o elemento fundamental na execução de um Bori mas pode não mais existir após a sua execução. Uma vez realizado o Bori ele pode ser desfeito, despachado junto com os demais elementos utilizados e oferecidos. Contudo nada impede, como provavelmente na maior parte das vezes, ele ser preservado, o tornando mais perene e forte o vínculo Orun-aìyé (ọ̀run-aìyé) .
É claro que esse vínculo não se perde quando despachamos o Igbá, da mesma forma que nenhum vínculo de desfaz quando despachamos um Igbá ou não o temos. O Igbá é um instrumento de intensificação disso a ser criado e usado por que sabe o que esta fazendo.
Na tradição do Candomblé onde o culto ao Ori se manteve sempre presente e importante não se faz um Bori sem que seja criada a representação no aìyé do Ori. Não me interessa tratar aqui da forma como outras tradições religiosas da mesma base fazem isso porque muitas delas não o faziam e adotaram tardiamente copiando o que viam ou ouviam falar e muito menos o que tradições africanas que perderam a sua origem no processo de cristianização e islamização tendo que buscar em literatura suas origens. No Candomblé sempre foi feito assim.
Dessa maneira o Igbá Ori é um exemplo vivo, conhecido e forte do que foi dito aqui sobre o que é um Igbá, sua finalidade, seu uso e aplicação prática.Voltando ao ponto do coletivo individual, no caso dos orixá (òrìṣà), na feitura de um olorixá o processo de ritual é todo voltado para a individualização. Assim, se inicia com o genérico que é o orixá (òrìṣà) e se faz a individualização deste através da ligação Orun-aìyé (ọ̀run-aìyé) para a pessoa, e isso é realizado no momento em que se cria a ligação Orun-aìyé (ọ̀run-aìyé) através do Igbá. Os animais que serão usados, os elementos colocados e dispostos, a ritualística de elaboração. Uma determinada qualidade será feita com o okuta indo ao fogo, etc... A individualização nascerá nesse momento e oIgbá por excelência é a marcação desse caminho, distinguindo assim um assento coletivo de um assento individual através da ligação Ori-okuta. O processo de individualização passará pela ritualística e também por materiais, metais, favas e folhas, específicos daquele orixá (òrìṣà) para aquela pessoa.
Já o orixá (òrìṣà) genérico será ligado através do Igbá genérico aquele que não passará pelo processo de individualização.
Dito isso voltamos ao ponto de que um Igbá òrìṣà criado dentro do processo de feitura não é um Igbá genérico ou coletivo, ele foi individualizado através da ligação Ori-okuta e sempre estará ligado aquele Ori.
Dentro da ritualística devemos lembrar que a pessoa é preparada para ser ele próprio o receptáculo do orixá (òrìṣà), o seu Igbá vivo. Um Ìyawó é um Igbá vivo do seu orixá (òrìṣà). O Igbá físico complementa isso ligando não mais o orixá (òrìṣà) genérico mas sim o orixá (òrìṣà) individualizado no Ìyawó ao orixá (òrìṣà) origem no Orun (ọ̀run) através de uma ligação individualizada, do Igbá individualizado.
Esse aparato físico ritualizado na iniciação deixa de ser matéria ordinária, barro, metal, ou fava e passa a constituir o caminho metafísico para o orixá (òrìṣà). Mas também não é mais uma ponte para o axé (àṣẹ) genérico do orixá (òrìṣà) e sim a sua fisicalização individualida naquele Ìyawó. Assim temos 2 caminhos, o caminho coletivo e genérico e o caminho individualizado. Os Igbá são os instrumentos de amplificação dessa relação entre os 2 espaços e o acesso ao ase de cada orixá (òrìṣà). Todo o processo de equilíbrio e restituição de axé (àṣẹ) passara por eles para ir ao duplo no Orun (ọ̀run) e retornar no aìyé para quem necessita.
Uma pessoa não será dependente de seus Igbá. Acima de tudo a relação desses espaços sempre existirá e jamais estamos não assistidos. Podemos não ter o instrumento de amplificação mas sempre teremos nosso ori e todos os orixá (òrìṣà).A quem pertence um Igbá?
Um Igbá ori é tão pessoal que jamais deveria ser mantido no Ile, longe de seu dono. Esse Igbá é completamente individualizado uma vez que não encontraremos no Orun (ọ̀run) um Ori coletivo mas sempre individual de forma que ele e só tem sentido e utilidade pelo seu próprio dono. Deveria assim estar junto da pessoa na sua casa. Nos casos em que essa pessoa não tem condições de mantê-lo em casa o Ilê Axé (Ilé àṣẹ) é o lugar natural.
O problema sempre surge em relação aos Igbá de orixá (òrìṣà) que despertam grandes paixões. Esta é uma religião praticada em torno dos orixá (òrìṣà) e seu culto assume demais importância. Deveria ser um culto ao Ori, a família e a ancestralidade mas o culto ao orixá (òrìṣà) assume proporções muito grandes.
Uma pessoa durante o seu processo de iniciação poderá receber um ou muitos Igbás, tudo depende da tradição da casa. Eu entendo que o mínimo que uma pessoa deve ter após sua iniciação seria, o seu igbá ori (que já deveria existir bem antes, muito antes da pessoa se iniciar), o Igbá do seu orixá (òrìṣà) e o Igbá ou assentamento do Exu bara (èṣù bara) do seu orixá (òrìṣà). Esta conjunto Igbá orixá + Exu bara é básico e imprescindível.
A este conjunto básico outros elementos podem ser adicionados como o Igbá do seu juntó que é o seu segundo orixá (òrìṣà), e os Igbá do seu enredo de orixá (òrìṣà). Deve se entender por enredo o conjunto de orixá (òrìṣà) que formam sua energia no aìyé e isto esta diretamente ligado ao processo de individualização. Assim a quantidade e qualidade dos Igbá que uma pessoa terá como parte do seu “enredo” depende da sua qualidade de orixá (òrìṣà) e de seu próprio caminho na religião, coisa que só é determinado durante o processo de feitura e consultas ao Oráculo.
Algumas casas fazem todos esses Igbá durante o processo de iniciação, outras vão adicionando isso ao longo das obrigações de 1, 3 e 7 anos. Se a pessoa terá Oye de babalorixá (babalórìṣà) ou dependendo o oye que essa pessoa venha a ter, o conjunto de Igbás (awọn igbá) será distinto de pessoas que não terão oye – cargo sacerdotal. Observe que nem todo mundo que é iniciado nessa religião será um babalorixá (babalórìṣà) ou iyalorixá (ìyalórìṣà). A maior parte sera formada de egbons, mais velhos.
Um iniciado em uma casa terá então uma quantidade significativa de Igbás. Mas, a quem pertence isso, a quem pertencem esses Igbás? Digo isso porque todos devem ter conhecimento do problema envolvido na posse de Igbá orixá. Muitas casas não permitem que nunca a pessoa retire osIgbá de dentro dela, nem mesmo quando seria natural que é quando a pessoa completa seus 7 anos.
O mais comum é que após desavenças durante o seu período de Ìyawó a pessoa quera deixar o Ilê Axé (Ilé àṣẹ) e naturalmente queira levar consigo os seus Igbás. Muitos as vezes nem conseguem mais entrar e ficam preocupados tendo deixado para trás seus Igbás devido a eles representarem um ponto de vulnerabilidade.
De fato, todos tem razão. Um Igbá sempre será um ponto de vulnerabilidade, principalmente o igbá ori. Esse jamais deveria estar em um Ilê Axé (Ilé àṣẹ). Mas a primeira coisa que tenho a dizer é tome cuidado com o que faz da sua vida. Nunca entre em nada sem avaliar tudo antes. Tem que conhecer primeiro a casa, o dirigente e as pessoas que frequentam a casa. As pessoas se dão mal porque se precipitam, colocam a vaidade na frente. Assim se a decisão de iniciação for mais consciente os problema serão menores. Segundo não se sai de um Ilê Axé (Ilé àṣẹ) por qualquer motivo fútil. Se foi seu orixá (òrìṣà) que escolheu aquela casa (essa é a tradição, é o orixá (òrìṣà) que escolhe onde quer ser iniciado e não a pessoa) então se submeta aos caprichos de outros. Mantenha o seu respeito e sua individualidade mas vaidade por vaidade a sua deve ser a menor.
Durante uma feitura não existe apenas um processo de individualização existe também um processo de ligação com o axé (àṣẹ) da casa e do iniciador. Um Ìyawó está fortemente ligado a casa e a pessoa que o iniciou. O processo ritualístico leva componentes que criam essa ligação, assim o iniciador considera que aqueles igbá não são independentes, eles adicionaram axé casa e receberam axé da casa. Foram parte de um conjunto. É entendido que seu sentido de existir é dentro daquela casa.
Se a pessoa sair, que faça seus Igbá na sua próxima casa. De maneira que não estamos discutindo a propriedade de louças e barro e sim de asé. Isso é verdade. Se você deixa para trás os seus Igbás, não se preocupe, faça outros no próximo lugar que vai, o orixá (òrìṣà) vai com você.Eu entendo que o ninguém segura ou fixa um orixá (òrìṣà) na sua casa mantendo o Igbá de um iniciado que se foi. OIgbá é uma individualização e só tem sentido, só tem função junto ao próprio iniciado. Se quiser manter um orixá (òrìṣà) em casa que trate melhor as pessoas.
O Igbá e a morte
Com a morte do iniciado o Igbá deixa de ter sentido. A ligação não mais existe e se você não quer conviver com um egun atrás de você é recomendado que despache tudo junto. Existem pessoas que entendem que se deve consultar o Oráculo para saber se o orixá (òrìṣà) quer ir embora ou não, ou seja, se o Igbá vai ou não no carrego e em vitude dessa consulta muitos Igbá ficam no Ilê Axé (Ilé àṣẹ). Entendo que é um forma de ver isso. Acho mais natural que tudo se vá, não há motivo para se manter um vínculo Orun-aìyé (ọ̀run-aìyé) com um ori que não mais existe no aìyé isso vai contra o fundamento do axexe (aṣeṣe), mas, cada um siga sua consciência e o que aprendeu.
iku ike obarainan

Suuru

Ifá diz:SÚÚRÙ

“Ìwà nikàn l’ó ṣòro o – Caráter é tudo que é necessário.”.

Quando Ìwà viu que os problemas eram muitos
Ìwà disse tudo bem
Ela foi para a casa de seu pai
Seu pai era o primeiro filho nascido de Olódùmarè
Seu nome, Sùúrù, o pai de Ìwà”

Ìwà, o caráter, é o nome em yorubá que os povos da mesma usam para classificar esse valor moral. O caráter (Ìwà) é considerado o mais importante valor que uma pessoa pode ter, Ìwà vale mais que dinheiro e luxuosidades. É no caráter em que as Divindades veem o verdadeiro eu de cada um.
“Sùúrù (Paciência) é o primeiro filho nascido de Olódùmarè, e visto como pai de Ìwà (Caráter)

Sendo assim, Ìwà é a única condição essencial para viver bem no Àiyé, sem interferências sobrenaturais ou resultados dos nossos atos. A paciência (sùúrù) é tida como fator principal para não se provocar a perda do caráter. Precisamos ter paciência durante a vida, não precisamos precipitar o que Ifá e as Divindades já colocaram em nossos caminhos.

Olódùmarè e as Divindades nos apoiam pelo o que somos e não pelo o que temos, ter tudo não exprime que estamos ao lado de Ọlọ́run e dos Òrìṣà, eles preferem o que é intangível, o caráter (ìwà), a paciência (sùúrù) diante dos fatos da vida, a verdade (òótó), e por ultimo e não menos importante, a humildade (irẹlẹ̀). É em Ìwà onde nossas ações refletem e ela é a prova de nossos feitos no Àiyé.

"O lobo pode perder os dentes, porém sua natureza jamais."

"Não basta dirigir-se ao rio com a intenção de pescar peixes; é preciso levar também a rede."

"Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência"

"Quem poupa os lobos, sacrifica as ovelhas"

Ifa gbe wa oo

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Gunungun

Gunungun ( O abutre ):
Uma antiga história yorùbá narra que Gunungun (o abutre) era uma ave com muita saúde, no entanto, da noite para o dia, ele começou a ficar fraco, muito frágil, com a aparência muito pálida. Diante do estado em que se encontrava, Gunungun foi até Olodunmare, para saber o que estava acontecendo. Olodunmare recomendou que Gunungun fosse à terra, pois aqui ele encontraria a cura para tudo o que estava acontecendo com ele. Gunungun fez conforme Olodunmare recomendou...
Orunmila, o Deus do oráculo sagrado, vivia na terra, com suas duas mulheres. Mas ele era pobre. A vida de Orunmila não estava sendo fácil, ele encontrava diariamente, muitas dificuldades. Ele consultou o oráculo, para saber o que fazer. O oráculo lhe disse que, ele faria um favor para uma pessoa muito importante. Ele foi informado que essa pessoa lhe traria felicidades. Orunmilá foi orientado a realizar alguns sacrifícios, em algumas encruzilhadas, para que tudo acontecesse de forma satisfatória.
Quando Gunungun chegou na terra, ele encontrou as oferendas de Orunmilá nas encruzilhadas. Èsù que estava nas encruzilhadas, disse que Gunungun podia comer aquelas oferendas, assim ele fez. Logo após ele se saciar, ele ficou bom de tudo o que estava sentindo. Gunungun então, perguntou à Èsù, quem havia depositado aquelas oferendas. Ele respondeu que havia sido Orunmila. Diante da cura, Gunungun queria recompensar Orunmila e perguntou para Olodunmare o que deveria fazer. Olodunmare presenteou Gunungun com Crianças, Riqueza, Paciência e Longevidade. No entanto, Olodunmare disse para Gunungun que Orunmila só poderia escolher um dos presentes e que Gunungun deveria retornar ao Orun com os três restantes.
Gunungun foi até Orunmilá e disse a história, que ele havia ficado bom graças as oferendas que ele havia feito e que tinha quatro presentes, mas que ele só poderia escolher um. Orunmilá chamou suas duas esposas para escolher com ele.
Uma das esposas escolheu a riqueza, a outra escolheu as crianças. Orunmila perguntou ainda a um amigo o que deveria escolher, esse lhe respondeu que a Longevidade. Orunmilá questionou os seus seguidores, que após consulta, orientaram Orunmila escolher a paciência, pois aquele que tudo começou no mundo teve paciência. Orunmilá agradeceu todos, mas seguiu o Oráculo e escolheu a paciência.
Mas, as mulheres de Orunmilá não ficaram satisfeitas e começaram a brigar, mas Orunmilá quando indagado por elas, sempre respondia: “Aquele que tudo começou no mundo teve paciência”. Gunungun voltou para o céu com os demais presentes. Com o tempo, riqueza ficou cansada de viver no céu sem paciência. Riqueza, então, pediu para Olodunmare para ir ao Aye, viver na casa de Orunmila para ficar junto de paciência. Depois de algum tempo, isso aconteceu com Crianças e mais adiante com Longevidade.
Decorrido alguns meses, as mulheres de Orunmila possuíam muitos filhos, Orunmilá possuía riquezas e tornou-se um homem com muita longevidade e, sobretudo, um homem com muita paciência, que soube fazer a escolha certa e que soube aguardar o tempo certo para que tudo de bom lhe acontecesse.

Jurema sagrada

Jurema sagrada

Jurema sagrada como tradição mágica religiosa é uma tradição nordestina que se iniciou com o uso da jurema pelos indígenas da região norte e nordeste do Brasil, tendo sofrido influências de variadas origens, da feitiçaria europeia à pajelança, xamanismo indígena, passando pelas religiões africanas, pelo catolicismo popular, e até mesmo pelo esoterismo moderno, psicoterapia psicodélica e pelo cristianismo esotérico. No contexto do sincretismo brasileiro afro-ameríndio, a presença ou não da jurema como elemento sagrado do culto vem estabelecer a diferença principal entre as práticas de umbanda e do catimbó. A prática é ainda um assunto pouco estudado.

Apesar de bastante conhecida no Nordeste do Brasil ainda não há um consenso sobre qual a classificação exata da planta popularmente conhecida por Jurema.

A Jurema (Acacia Jurema mart.) é uma das muitas espécies das quais a Acácia é o gênero. Várias espécies de Acácia nativas do nordeste brasileiro recebem o nome popular de Jurema.

As Acácias sempre foram consideradas plantas sagradas por diferentes povos e culturas de todo o mundo; Os Egípcios e Hebreus veneravam a "Acacia nilotica" (Sant, Shittim, Senneh), os Hindus a "Acacia suma" (Sami), os Árabes a "Acacia arabica" (Al-uzzah), os Incas e outros povos indígenas da América do sul veneravam a "Acacia cebil"(vilca, Huillca, Cebil), os nativos do Orinoco a "Acacia niopo" (Yopo) e os índios do nordeste brasileiro tinham na "Acacia jurema" (Jurema, Jerema, Calumbi) a sua árvore sagrada, a sua Acacia, ao redor da qual desenvolveu-se essa tradição hoje conhecida como "Jurema sagrada".

O culto da Jurema está para a Paraíba, assim como o de Iroko está para a Bahia. Esta arvore tipicamente Nordestina, era venerada pelos índios potiguares e tabajaras, da Paraíba, muitos séculos antes da descoberta Brasil. Em Pernambuco, existe um município cujo nome é Jurema devido a grande quantidade destas árvores que ali se encontra. A jurema (mimosa hostilis), depois de crescida, é uma frondosa árvore que vive mais de 200 anos. Todas as partes dessa árvore são aproveitadas: a raiz, a casca, as folhas e as sementes, utilizadas em banhos de limpeza, infusões, unguentos, bebidas e para outros fins ritualísticos. Os devotos iniciados nos rituais do culto são chamados de “Juremeiros”. Foi na cidade de Alhandra, município a poucos quilômetros de João Pessoa, que esse culto, na forma do Catimbó alcançou fama. A Jurema já era cultuada na antiguidade por pelo menos dois grandes grupos indígenas, o dos tupis e o dos cariris também chamados de tapuias. Os tupis se dividiam em tabajaras e potiguares, que eram inimigos entre si. Na época da fundação da Paraíba, os tabajaras formavam um grupo de aproximadamente cinco mil índios. Eles ocupavam o litoral e fundaram as aldeias Alhandra e a de Taquara.

A jurema sagrada é remanescente da tradição religiosa dos índios que habitavam o litoral da Paraíba, Rio Grande do Norte e no Sertão de Pernambuco e dos seus pajés, grandes conhecedores dos mistérios do além, plantas e dos animais. Depois da chegada dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos engenhos onde estavam escravizados, encontravam abrigo nas aldeias indígenas, e através desse contato, os africanos trocavam o que tinham de conhecimento religioso em comum com os índios. Por isso até hoje, os grandes mestres juremeiros conhecidos, são sempre mestiços com sangue índio e negro. Os africanos contribuíram com o seu conhecimento sobre o culto dos mortos egun e das divindades da natureza os orixás voduns e inkices. Os índios, estes contribuíram com o conhecimento de invocações dos espíritos de antigos pajés e dos trabalhos realizados com os encantados das matas e dos rios. Daí a jurema se compor de duas grandes linhas de trabalho: a linha dos mestres de jurema e a linha dos encantados .

Na literatura o suco da jurema aparece no Romance Iracema de José de Alencar, (1829 - 1877), publicado em 1865. É descrito como bebida de cor esverdeada, que deixavam os índios em estado de transe, propiciando-lhes sonhos agradáveis. Iracema era filha do pajé, guardiã do suco da jurema. Por isso deveria manter-se virgem, mas sua vida muda com a chegada de Martim, um homem branco, que chegara como convidado à sua casa.

O romance ocorre no interior e litoral nordestino (terra do autor) e explora a rivalidade tribal entre os índios tabajaras (da tribo de Iracema) e os pitiguaras (referência aos potiguaras do qual ainda existem remanescentes), que disputavam territórios litoral e adversários dos tabajaras.

O autor apesar de descrever alguns costumes indígenas, ameniza a violência do processo de aculturação descrito além de Iracema nos seus outros romances indianistas "Ubirajara" (1870), e "O Guarani" (1857) e não fornece um relato comparável as descrições etnográficas. Contudo, diante da escassez de fontes sobre os índios do nordeste do Brasil, é uma importante referência para reconstituição dos rituais e mitos destruídos pela aculturação juntamente com seu romance regionalista "O Sertanejo" (1875).

Também o romance brasileiro "Macunaíma" escrito por Mário de Andrade ( poeta e romancista modernista) faz referência a essa planta para fins ritualísticos. O personagem principal homônimo ao se caracterizar de mulher para enganar Venceslau Pietro Petra, "virou uma francesa tão linda que se defumou com jurema e alfinetou um raminho de pinhão paraguaio para evitar quebranto."

São doze os Reinos da Jurema Sagrada.

Para entender o que é um Reino da Jurema Sagrada é o seguinte, após o seu nascimento cada vez que era obrigado a acrescentar novos atos e valores dentro da Jurema de Caboclo era criado um Reinado, voltamos ao período da Pre-colonização do Brasil, que foi antes do descobrimento em 1498 oficial em 1500, e em 1532 Os invasores que foram chamados de colonizadores ao chegar ao Novo Mundo, ou Terra prometida, fizeram amizade com os índios que habitavam o litoral. Os índios do tronco dos Tupis, que ocupavam a Costa Leste foram totalmente exterminados. Esse é o período em que não houve registro escrito sobre as atividades desenvolvidas pelos povos indígenas no Brasil.
O índio, que sempre esteve em harmonia com o meio ambiente, sofreu muito com a chegada do homem branco, que formava pequenos vilarejos, a caça de escravos índios também era utilizada por esses primeiros homens em terras brasileiras. Em 1532 existiam muitos colonizadores e homens com muitos sonhos.
A grande resistência do índio de ser escravo em sua própria terra levou os invasores a alternativas.
Logo depois, em 1533, deu-se início a chegada dos navios negreiros, trazendo escravos da África. Este contato estabelecido passou a ocupar mais a cultura do habitante da terra com remédios, hábitos alimentares e junção de religião.
Foi desta época que se desenvolviam os primeiros Juremeiros consagrados pelos Pajés do tronco dos Tupi.

1. Início do primeiro Reino da Jurema Sagrada

Cada um dos termos estão corretos Tupã, Juremal e ou Caboclo.
Os colonizadores mais os afros descendentes, por estarem longe de seu habitat, necessitaram procurar remédios e alimentação, criaram comunidades próximas às aldeias Tupis.
Esse estreitamento de amizade fez as junções de religiões, sendo que alguns deles foram consagrados na Pajelança.
Como existia forte influência de religião (católica, bruxaria europeia e afros descendentes), existiu uma misteriosa junção.
Nasceu aí então o primeiro Reino:
Jurema Sagrada, que levou o nome de Reino do Juremal, Jurema de Caboclo, Reino de Tupã, ou Reino de Tanaruê.
Para a Pajelança a natureza é respeitada em sua essência, cultuando aos pés das árvores sagradas, retirando da natureza vários tipos de artefatos, tais como: pedras, sementes, troncos das árvores sagradas, fogo e água; tudo que possuía vida ao seu redor lhe era sagrado.
Com o surgimento do primeiro Reino da Jurema Sagrada, a sua Árvore Sagrada foi a Jurema Preta.
E a árvore da Jurema Preta passou a ser a Rainha de todas as outras Árvores, eis a nossa Senhora Rainha.
Esses homens, que hoje são os nossos Mestres mais antigos, sendo que muitos não acostam mais, após serem consagrados Juremeiros, manifestavam com os seus índios, dando-lhes o nome de “Caboclo”, seguiam as suas atividades normais unindo as religiões, passando a ser os primeiros Catimbozeiros.
E a Jurema Preta, sendo a primeira árvore a realizar uma mesa de consagração e utilizando o seu tronco para o encantamento dos espíritos indígenas, quando esses Juremeiros foram para outras localidades, passou a encantar outras Árvores e cada árvore que era encantada e utilizada levou o nome de Cidade Encantada.
Nessas Cidades Encantadas, ou seja, as árvores encantadas onde novos homens foram consagrados não pelos pajés, mas sim pelos Juremeiros que foram consagrados pelos Pajés, nasceu o Reino do Juremal, que deu seguimento e agregou outras árvores, que passaram a ser outros Reinados.
Esses Reinados possuíram um Espírito Encantado milenar, que tem grande importância para a Jurema Sagrada, recebendo o título de Rei.
Vamos observar que devido a perseguição dos governantes, porque os Jesuítas não pregavam somente a presença de Cristo para os índios, mas que os índios praticavam atos demoníacos.
Daí os Juremeiros, que eram pegos rezando no pé de uma Árvore Sagrada, abaixados no meio da Mata, em seu catimbó, eram mortos ali mesmo, a partir do Reino do Acais, a unificação dos Reinados passou a ser dentro de quatro paredes e as mesas, ao invés de ser no chão com ervas e totalmente privativas, passaram a ser em mesa e pública.
Nada é feito dentro das casas, é com muita reza e vários preceitos. Quem já passou pelos seus atos do Reino de Tupã, sabe que para batizar apenas um discípulo, ou seja, iniciar os primeiros passos, não tem como realizar todos os atos em menos de cinco dias. Somente o último ato é feito no peji do Mestre, os demais todos são na natureza, nos portais dos Encantados.
Com tal dificuldade e perseguição da polícia, essa Rama da Jurema perdeu adeptos ao longo do tempo, ficando apenas os mais fieis ao princípio da Raiz da Jurema Sagrada, que nasceu dentro das Aldeias.
Mas hoje, como as leis do país nos favorecem, vem cada vez mais aumentando o número de discípulos, pois existe a necessidade do Juremeiro sair dos quartos e estar em contato com a Mãe Terra e, todos os elementos da encantaria fazem aproximação mais forte das correntes, e acordam a ciência do Mestre em nossos caminhos.
A Jurema de Caboclo é um Reinado que quase foi extinto pelo o motivo de intolerância religiosa, a autorização de exterminar com todos atos que fora derivados dos índios e ou do místico africano.
A pessoas que era Juremeiro e ou Mestre em vida, passou a ser benzedores, ou mesmo fazer as suas devoções em suas casa mesmo.
Os que passou ao culto do orixá ficou com a sua Jurema só para si, e outros agregarão valores, para se proteger e criou outros ritos fechados e não todos na natureza dai nasceu os outros 11 reinados.

1.1.2. Primeiro Reinado: (teve vários nomes conforme a região e costumes)
– Reino do Juremal,
– Reino de Tupã,
– Reino de Caboclo,
– Jurema de Caboclo,
– Jurema de Chão

O Rei é Tupã ou Tanaruê. Para os índios Deus é Tupã, mas esse Rei Tupã é um grande cacique do tronco dos índios Tupis, que levou o nome de cacique Tupã.
Para os índios o Deus supremo e chamado de Tupã, e um grande guerreiro ia levar o nome de Tupã afim de fazer homenagem ao Deus Supremo.
Caboclo Tupã tinha a sua tribo que era da família dos Tupinambás.

1.1.3. Descrição do Reino do Juremal

Estes Reinos são espirituais, como já foi dito, mas no culto da Jurema eles são representados por estruturas físicas que chamamos também de cidades, que são representadas em árvores onde existiram consagrações de juremeiros, a sua ciência e buscada toda na natureza do reino animal e ou vegetal, como que para os índios existem Deus tudo que na força da natureza, que esses espíritos são invocados afim de ajudar os membros da aldeia, ato esse realizado pelos Pajés.
E tem ate nos dias de hoje os índios que são iniciados na pajelança que os seus guias espirituais são índios que se encantaram.
A cidade no mundo espiritual é a união de forças espirituais, ligados a vida das árvores, fazendo um elo entre o mundo espiritual e a terra e isso ao Juremeiro.
Na cidade montada para o Juremeiro, o seu altar e suas mesas de consagração são constituídas por vários objetos que lembram ou contém algo que liga a natureza ao mundo dos encantados para fazer as invocações.
São constituídas por pote, moringas, bacias de barro, água, cachimbos, cruzeiros de Luz, maracás, tronco de árvores sagradas e vários outros objetos. Observando que os copos taças e cristais foi agregado nos outros reinados e não na Jurema de Caboclo que é tudo nativo.
São muitos os elementos para se levantar uma cidade, esta cidade é colocada sob a proteção de um Mestre, o qual foi encantado nela na sua passagem, ao manifestar em um médium é consagrado e encantado novamente na mesa, sendo sua missão espiritual para com a comunidade.

É composto pelas cidades de Juremal, Cidade Campos Verdes e Cidade Estrela D’Alva. Família Surupira que são os índios que não teve contatos com o homem branco isso que se encantou-se antes de 1500.
Este Reino pertence aos primeiros Juremeiros, são os encantados mais antigos da Jurema Sagrada Catimbó.
Fazem parte deste reino os Caiporas, Curupiras, Sereias, Mestres Curandeiros, Casamenteiros e Mestras Parteiras.
Praticam magia com os elementos da natureza, sendo todos os atos principais na própria natureza, nada dentro de casa, somente alguns se realizam em seus altares.
Por isso o Reino do Juremá é dito como o um reino dos primórdios, com seus cultos primitivos, voltados à natureza e ao homem e seu habitat natural, invocações de encantados no seu elemento natural.
Há muitos caboclos (índios) e muitos cabocos (mestiços) com poucas características de índios, mas que entendem muito de remédios do mato por serem juremados pelos Pajés.
Este Reino é governado por Tupã que na mesa é chamado de Rei Tanaruê (não acosta). Toda a falange de Tupinambá vem através deste reino. Os mestres Inácio de Oliveira, Roldão de Oliveira e Maria do Acais I, que na verdades era índios vivia na Paraíba, são os que estão à frente das cidades.
Este reino tem a função de melhorar a vida das pessoas trazendo prosperidade, inteligência e despertar a ciência dos discípulos. Na árvore da Jurema Preta este reino está na semente.
Ou seja, a semente para todos os outros onze reinados saiu do reino de Tupã.

1.1.4. Segundo Reino do Vajucá

Dizem os antigos que este reino fica na direção norte e no Rio Grande do Norte ou na Paraíba e quem tem a ciência da vidência vê no céu quando o dia começa a nascer e isto somente por alguns segundos.
Este é um Reino de muitos Mestres antigos também que viveram no Rio Grande do Norte e redondezas.
Há muitos Caboclos e Pretos Velhos, neste reino. O Vajucá está divido em duas partes:

- Uma tomada por florestas e com muitas tribos de índios “brabos”;

- Outra metade é constituída por caatinga.

Este Reino está sob a direção de Rei Heron, Que é o Rei dono de todas as doenças.
O reino do Vajucá é constituído por mestres que trabalham com plantas e a própria terra. Sabem fazer remédios com argila e ervas torradas sendo também exímios preparadores de misturas para cachimbo, usadas em diversos atendimentos espirituais. Mestres Carlos, João da Mata e Mestra Faustina, Manoel Cadete.

1.1.5. Terceiro Reino – Tanema

É interessante falar sobre este reino corrigindo a pronúncia que algumas pessoas ao falar ou cantar sobre este reinado, erroneamente o chamam de panema.
Panema é um mal súbito, uma doença parecida com o banzo dos negros, um tipo de depressão causada por encantamento com o objetivo de fazer o atingido definhar.
Tanema é um Peino de transformação e equilíbrio; um Reino onde as coisas e pessoas passam e se transmutam; um Reino de renovação. Neste Reinado encontraremos muitos curandeiros, ciganos, alguns pajés e outros entes que trabalham e cuidam de ervas e animais.

1.1.6. Quarto Reino – Angico

Reino do Angico, uma árvore da família das acácias, muito importante em nosso culto que leva o mesmo nome deste Reino.
Este Reinado traz o poder da proteção, do fechar do corpo e o espírito para os males do mundo.
Neste local, vários espíritos que se destacaram pela manipulação dos poderes encantados das águas e de feitiços ligados a alma feminina, tais como Mestra Aninha do Alejo, Mestra Joana Pé de chita, Sibamba e etc.

É um Reino que tem um grande número de Mestres Esquerdeiros.

1.1.7. Quinto Reino do Tigre

Reino dos índios que foram massacrados, dos feiticeiros que foram condenados e torturados por serem bruxos, magos negros, cabalistas e etc. Reino da guerra e do conflito, dele é que tiramos a força para os trabalhos de “fumaça as esquerdas”, que são rituais onde evocamos o poder de aniquilação impregnado neste reino para diluirmos situações indigestas ou aparentemente intransponíveis em nossa vida.

1.1.8. Sexto Reino do Bom Florar

Parecido com o Reino de Tanema, onde estão se transformando as energias, o reino do bom florar é um local onde já estão estabelecidos os vínculos eco existenciais com os seres animais, vegetais e humanos. Morada dos antigos mestres raizeiros; este reino é repleto de entes iluminados, a maioria dos mestres que trabalham ligados a este lugar, se dedicam a trabalhar em magias curativas.

1.1.9. Sétimo Reino de Urubá

Este Reino é um marco da influência da cultura negra dentro do culto da Jurema Sagrada.
Reino de vários quilombos mistos de negros, índios e brancos foragidos, Reino onde estão estabelecidos muitos vodus e Pretos Velhos, Xambá entre outros culto afro descendentes.

1.1.10.Oitavo Reino das Sete Covas do Rei Salomão

O berço da ciência profética e mística da Jurema, herança dos europeus.
Os espíritos que são pilares das ciências ocultas e por ele passam povos de mistério para buscar sabedoria para suas jornadas, dentre eles o povo cigano. É um reino de muitos mistérios, onde se trabalha com ladainhas, em silêncio ou cantando.
Sua localização muda de doze em doze horas, por tanto só catimbozeiros de muita ciência conseguem contato para trabalhar com os mestres e as energias deste lugar bendito.

1.1.11.Nono Reino do Rio Verde

Derivação de Nomes:

- Reino de Rio Verde;
- Reino das Águas Claras;
- Reino dos Encantados.
O Reinado é da Rainha Aurora. É o único Reinado que tem espíritos que se encantaram em vida na natureza ou em animais, não existiu a morte, o seu corpo sumiu, se encantou. Existem vários portais de encantamento segundo o Tambor de Mina Nagô, cujo qual esse Reinado o pertence.
Existem alguns encantados que migraram para a Jurema Sagrada, e aceitaram os rituais diferenciados dos seus, só para concluir a sua missão espiritual, tais como os Marinheiros, Caboclos das Águas, Iara, Janaína, entre outros.
O Reino das Águas Claras tem o início em toda a extensão do rio Amazonas e seus principais afluentes. A localidade da Encantaria é nas proximidades da ilha de Marajó e no mar de Água Doce, litoral do Amapá ao Pará.
Recebe a influência do Tambor de Mina Nagô do Grão Pará, Encantaria.
Esse reino é especial pois não tem um rei e sim uma rainha, que é a sua mãe, Rainha Aurora.
Neste Reinado, no encantamento, há uma ilha de matas densas e virgens, pois na verdade suas cidades encantadas estão debaixo das águas. Reino onde é soberano o poderio feminino e de morada de encantados como botos, marinheiros, caravelas, sereias, ondinas e etc.
As meninas da saia verde são doze, que moram no fundo do mar, em um dos reinos do Rio Verde, o invisível. Entram em sintonia com as sereias.
O Príncipe Fleximar é a entidade encantada que movimenta as águas quentes e suntuosas. É o Pai do Príncipe Rio Verde
O Príncipe Rio Negro é a entidade encantada no Rio Negro, que se migrou para a Paraíba e foi catequizado em Santa Rita.
O Príncipe Solimões é quem põe a paz entre os irmãos.
O Príncipe Rio Mar ou Maresia mora no Grão Pará. Irmão mais novo de Rio Verde, filho da Rainha Aurora com o Rei da Turquia. Caboclo brincante das rodas do tambor de mina nagô.
A Princesa Erondina é a Encantada das águas que brotam da terra. Princesa filha do Rei da Turquia e do Reino de Rio Verde, igual as suas Irmãs, Mariana, e Jarina. A Princesa Anabar é das águas de regatos e pequenos rios. Encantados.
Os Botos são espíritos que se encantaram na hora da morte em Botos, vindo de vez em quando nas sessões de Jurema para trazerem simpatias e desenvolvem o amor entre as pessoas.
A Cobra grande é o espírito que se encantou na hora da morte em cobra. Mora dentro dos rios.
Espíritos que se encantaram na hora da morte em sapos são responsáveis pela parte da magia simpática. É claro que não pega cabeça, são os que servem aos mestres esquerdeiros, a família de Légua Bori Bua Trindade utiliza muito esse encantamento.
Maria Flor ou Florzinha é uma entidade encantada nas folhas das matas, desconfiada só aceita fumo, mel e aguardente. Auxilia no uso das folhas, raízes e cascas das plantas. Essa entidade não acosta nas sessões de Jurema.
Currupira é a entidade da família de Florzinha que tem os pés virados para trás. São excelentes na magia de cura. Demoram muito a acostar nas sessões de catimbó.
Yara Mãe d’ Água é a encantada que virou peixe, uma espécie de sereia das águas doces, resolve problemas de amor.
Boi Tatá é o encantado em forma de boi. Provoca o movimento do fogo, este também não acosta nas sessões de catimbó.

1.1.12.Décimo Reino do Acaes

Este é um marco na história da Jurema Sagrada, localidade onde foi aberta a primeira porta, ou seja, a primeira casa de Catimbó Jurema.
É o Reinado que tem mais adeptos. É considerado um marco.
A partir de Maria do Acais firmou-se aliança e troca de conhecimento com os outros Reinados existentes e unificação da ciência, tendo sido criado por muitos mestres que acostam em novos discípulos.
Os mestres mais importantes dos primórdios dos cultos da jurema no nordeste que são Mestre Manoel Cadete, Mestre Machado Bravo e Mestre José Pelintra.

1.1.13.Décimo Primeiro Reino de Canindé

Este é um Reinado muito importante e há quem diga que é por ele que encontramos as explicações e os motivos de existirem os sacrifícios de animais para a Jurema.
Local onde há a unificação das várias etnias de índios em um só local vivendo em sua harmonia cultural, com suas pajelanças e mitos. Neste Reinado, como o próprio nome diz, quem rege é o Rei Canindé, o filho de Tupã, Senhor das Festas, Bebidas e da Guerra.

1.1.14.Décimo Segundo Reino de Tronos

O último e mais misterioso dos reinos. Nele se encontram os Reinados, Os Tronos e os Poderes do mundo espiritual. Local onde vivem e trabalham os anjos de todas as espécies.
Neste Reinado trabalha-se com o Poder Divino através de uma outra forma mais sútil da magia.
O que para os esotéricos é onde se guardam os dogmas da alta magia.
É o Reinado fonte de Purificação da Espiritualidade do culto da Jurema Sagrada.

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Mito da formação do mundo na visão ioruba

19 de março de 2015 ·
OS MITOS

São várias as versões dos mitos dos orixás e, como em todos os mitos, algumas são
incompatíveis entre si; mas a essência dos orixás pode ser perfeitamente absorvida através
destas narrativas. Para os iorubás, a melhor representação do mundo é uma cabaça dividida ao
meio, uma das metades constituindo o céu (orum, Obatalá), e a outra a terra (ayê, Odudua). No
princípio de tudo, entretanto, não havia a terra, e os orixás viviam no orum, ao redor de
Olorum, o senhor do Universo, secundado por Obatalá. Obatalá uniuse a Odudua e tiveram
dois filhos: Aganju, a terra firme, e Iemanjá, as águas dos oceanos.
Outro mito diz que a terra era então um vasto oceano e os orixás desejavam conhecêlo.
Obatalá encarregou Oxalá de descer ao ayê, a metade inferior da cabaça, e espalhar o pó preto
que formaria a terra firme. Entregou a ele o saco com o pó preto e uma galinha. Oxalá então
partiu em viagem, mas no meio do caminho sentiu sede. Exu, vendo que Oxalá sentia sede,
ofereceulhe vinho de palma e Oxalá bebeu. E tanto vinho que Oxalá que embriagouse e caiu
em sono profundo. Exu tomou de Oxalá o saco da criação e o levou a Obatalá, a quem contou
que Oxalá beberá e negligenciara sua tarefa.
Obatalá então entregou o saco a Odudua, que com ele desceu à terra, jogou o pó preto
sobre o oceano e tornando se ela mesma uma galinha, ciscou o pó preto até que se formaram os
continentes e toda terra firme que há.
Essa terra firme é Aganju, filho de Odudua e Iemanjá. Obatalá então criou um grande
dendezeiro, pelo qual desceram à terra todos os orixás, cada um escolhendo uma parte do
mundo que lhe agradava, e que passou a ser de seu domínio.
Assim, Oxum e Obá escolheram as águas doces; Iansã quis os ventos; Xangô os trovões e
as cachoeiras; Obaluaiê à terra firme; Nanã a lama dos fundos dos rios e os abismos; Ogum quis
as montanhas e os minérios; Oxossi as matas e florestas; Oxumarê o arco – íris; Ewá os
horizontes. Apenas Exu não sabia o que escolher, pois tudo e nada lhe agradava. E considerouse
assim dono de tudo um pouco, com que os demais orixás concordaram. Desse modo o mundo
foi criado e dividido entre os orixás, e é por isto que cada um detêm o domínio de uma parte da
natureza.
Outro mito narra que Obatalá reuniu todos os materiais necessários à criação do mundo
e mandou a estrela da manhã convocar todos os orixás. Apenas Orunmilá apareceu. Por isso
Obatalá o recompensou, permitindo que apenas ele conhecesse os segredos da criação e do por
vir. E foi assim que a estrela da manhã revelou a Orunmilá que todos os segredos e materiais da
criação se encontrava numa concha de caramujo, dentro de um vaso que ficava entre as pernas
de Obatalá.
Orunmilá tornouse então, dono dos segredos, das magias e conhecedor do futuro, das
vontades, aquele que sabe a vontade de Obatalá e de todos os orixás, o que sabe com que
matéria o homem foi feito.
Outro mito narra que tendo tido o conhecimento das matérias da criação, teria sido
Orunmilá e não Odudua o criador da terra, aquele a espalhar o pó preto sobre as águas.
Orunmilá então é considerado o amigo de Obatalá. Quis então Obatalá criar os homens. Ajalá,
o orixá oleiro foi incumbido de moldar as cabeças dos rios e outros elementos da natureza.
Ajalá moldava as cabeças e as punha para assar em seu forno. Mas Ajalá tinha o hábito
de embriagarse enquanto cozia o barro e criou muitas cabeças defeituosas, queimando algumas
e deixando outras com o barro cru. Depois que Ajalá terminava de fazer os oris (cabeças)
Obatalá soprava nelas e lhes dava eni, a vida.
Assim surgiram a terra e os homens, sob o domínio dos orixás. Cada orixá viveu então
episódios diversos em sua história, dos quais narraremos aqui apenas alguns, pois a quantidade
de versões dos mitos é praticamente infinita

Oiye, cargo, posto das religiões de matriz africanas

Hierarquia das religiões afro-brasileiras

Hierarquia no Culto de Ifá
1. Babálawó ou Iyánifá Sacerdote do Orixá Orúnmilá-Ifá do Culto de Ifá.
Após duas iniciações ("Mãos"), e sob a obediência a rígidos códigos morais, o Babálawó recebe o direito de utilizar o Opele-Ifá (ou Rosário de Ifá) e os ikins (sementes de dendezeiro - igui ope, em yorubá). O Merindilogun (Jogo de búzios) é franqueado também às Iyápetebis (Mulheres iniciadas a Ifá) e aos Awófakans (Aqueles que receberam a "primeira mão"). Alguns Babálawós recebem o título de Oluwó. Ver: Ifá

Hierarquia no Culto aos Egungun
Masculinos:
1. Alapini (Sacerdote Supremo, Chefe dos alagbás),
2. Alagbá Sacerdote (Chefe de um terreiro),
3. Ojê (iniciado com ritos completos),
4. Ojê agbá (ojê ancião),
5. Atokun (ojê que guia de Egum),
6. Amuixan (iniciado com ritos incompletos),
7. Alagbê (tocador de atabaque).
Alguns oiê dos ojê agbá: Baxorun, Ojê ladê, Exorun, Faboun, Ojé labi, Alaran, Ojenira, Akere, Ogogo, Olopondá.
Femininos:
1. Iyalode (responde pelo grupo feminino perante os homens),
2. Iyá egbé (lider de todas as mulheres),
3. Iyá monde (comanda as ató e fala com os Babá),
4. Iyá erelu (cabeça das cantadoras), erelu (cantadora),
5. Iyá agan (recruta e ensina as ató), ató (adoradora de Egun).
Outros oiê: Iyale alabá, Iyá kekere, Iyá monyoyó, Iyá elemaxó, Iyá moro.
1. Assogba Supremo sacerdote do culto de Obaluaiyê
2. Babalosanyin: Responsável pela colheita das folhas.

Hierarquia no candomblé Ketu:
1. Iyá / Babá: significado das palavras iyá do yoruba significa mãe, babá significa pai.
2. Iyalorixá / Babalorixá: Mãe ou Pai de Santo. É o posto mais elevado na tradição afro-brasileira.
3. Iyaegbé / Babaegbé: É a segunda pessoa do axé. Conselheira, responsável pela manutenção da Ordem, Tradição e Hierarquia.
4. Iyalaxé (mulher): Mãe do axé, a que distribui o axé e cuida dos objetos ritual.
5. Iyakekerê (mulher): Mãe Pequena, segunda sacerdotisa do axé ou da comunidade. Sempre pronta a ajudar e ensinar a todos iniciados.
6. Babakekerê (homem): Pai pequeno, segundo sacerdote do axé ou da comunidade. Sempre pronto a ajudar e ensinar a todos iniciados.
7. Ojubonã ou Agibonã: É a mãe criadeira, supervisiona e ajuda na iniciação.
8. Iyamorô: Responsável pelo Ipadê de Exú.
9. Iyaefun / Babaefun: Responsável pela pintura branca das Iyawos.
10. Iyadagan e Ossidagã: Auxiliam a Iyamorô.
11. Iyabassê: (mulher): Responsável no preparo dos alimentos sagrados as comidas-de-santo.
12. Iyarubá: Carrega a esteira para o iniciando.
13. Aiyaba Ewe: Responsável em determinados atos e obrigações de "cantar folhas.
14. Aiybá: Bate o ejé nas obrigações.
15. Ològun: Cargo masculino. Despacha os Ebós das obrigações, preferencialmente os filhos de Ogun, depois Odé e Obaluwaiyê.
16. Oloya: Cargo feminino. Despacha os Ebós das obrigações, na falta de Ològun. São filhas de Oya.
17. Iyalabaké: Responsável pela alimentação do iniciado, enquanto o mesmo se encontrar recolhido.
18. Iyatojuomó: Responsável pelas crianças do Axé.
19. Pejigan: O responsável pelos axés da casa, do terreiro. Primeiro Ogan na hirarquia.
20. Axogun: Responsável pelos sacrifícios. Trabalha em conjunto com Iyalorixá / Babalorixá, iniciados e Ogans. Não pode errar. (não entram em transe).
21. Alagbê: Responsável pelos toques rituais, alimentação, conservação e preservação dos instrumentos musicais sagrados. (não entram em transe). Nos ciclos de festas é obrigado a se levantar de madrugada para que faça a alvorada. Se uma autoridade de outro Axé chegar ao terreiro, o Alagbê tem de lhe prestar as devidas homenagens. No Candomblé Ketu, os atabaques são chamados de Ilú. Há também outros Ogans como Gaipé, Runsó, Gaitó, Arrow, Arrontodé, etc.
22. Ogâ ou Ogan: Tocadores de atabaques (não entram em transe).
23. Ebômi: Ou Egbomi são pessoas que já cumpriram o período de sete anos da iniciação (significado: meu irmão mais velho).
24. Ajoiê ou ekedi: Camareira do Orixá (não entram em transe). Na Casa Branca do Engenho Velho, as ajoiés são chamadas de ekedis. No Terreiro do Gantois, de "Iyárobá" e na Angola, é chamada de "makota de angúzo", "ekedi" é nome de origem Jeje, que se popularizou e é conhecido em todas as casas de Candomblé do Brasil. (em edição)
25. Iaô: filho-de-santo (que já foi iniciado entra em transe com o Orixás).
26. Abiã ou abian: Novato. É considerada abiã toda pessoa que entra para a religião após ter passado pelo ritual de lavagem de contas e o bori. Poderá ser iniciada ou não, vai depender do Orixá pedir a iniciação.

Hierarquia do candomblé Jeje:
No Jeje-Mahi
1. Doté é o sacerdote, cargo ilustre do filho de Sogbô
2. Doné é a sacerdotisa, cargo feminino, esse título é usado no Terreiro do Bogum onde também são usados os títulos Gaiaku e Mejitó. similar à Iyalorixá
Os vodunsis da família de Dan são chamados de Megitó, enquanto que da família de Kaviungo, do sexo masculino, são chamados de Doté; e do sexo feminino, de Doné
No Jeje-Mina Casa das Minas
1. Toivoduno
2. Noche
No Kwé Ceja Houndé
• Gaiaku, cargo exclusivamente feminino
• Ekede
Os cargos de Ogan na nação Jeje são assim classificados: Pejigan que é o primeiro Ogan da casa Jeje. A palavra Pejigan quer dizer “Senhor que zela pelo altar sagrado”, porque Peji = "altar sagrado" e Gan = "senhor". O segundo é o Runtó que é o tocador do atabaque Run, porque na verdade os atabaques Run, Runpi e Lé são Jeje.

Hierarquia do candomblé Bantu:
Títulos Hierárquicos Bantu, Angola, Congo
• 1 - Tata Nkisi - Zelador.
• 2 - Mametu Nkisi - Zeladora.
• 3 - Tata Ndenge - pai pequeno.
• 4 - Mametu Ndenge - Mãe pequena(há quem chame de Kota Tororó, mas não há nenhuma comprovação em dicionário, origem desconhecida).
• 5 - Tata NGanga Lumbido - Ogã, guardião das chaves da casa.
• 6 - Kambondos - Ogãs.
• 7 - Kambondos Kisaba ou Tata Kisaba - Ogã responsável pelas folhas.
• 8 - Tata Kivanda - Ogã responsável pelas matanças, pelos sacrifícios animais (mesmo que axogun).
• 9 - Tata Muloji - Ogã preparador dos encantamentos com as folhas e cabaças.
• 10 - Tata Mavambu - Ogã ou filho de santo que cuida dacasa de exú (de preferência homem, pois mulher não deve cuidar porque mulher mestrua e só deve mexer depois da menopausa, quando não mestruar mais, portanto, pelo certo as zeladoras devem ter um homem para cuidar desta parte, mas que seja pessoa de alta confiança).
• 11 - Mametu Mukamba - Cozinheira da casa, que por sua vez, deve de prefer~encia ser uma senhora de idade e que não mestrue mais.
• 12 - Mametu Ndemburo - Mãe criadeira da casa(ndemburo = runko).
• 13 - Kota ou Maganga - Em outras nações EKEJI (todos os mais velhos que já passaram de 7 anos, mesmo sem dar obrigação, ou que estão presentes na casa, também são chamados de Kota).
• 14 - Tata Nganga Muzambù - babalawo - pessoa preparada para jogar búzios.
• 15 - Kutala - Herdeiro da casa.
• 16 - Mona Nkisi - Filho de santo.
• 17 - Mona Muhatu Wá Nkisi - Filha de santo (mulher).
• 18 - Mona Diala Wá Nkisi - Filho de santo(homem).
• 19 - Tata Numbi - Não rodante que trata de babá Egun(Ojé).
Sacerdotes na África
BANTU (ANGOLA-KONGO).
• Kubama..................adivinhador de 1a categoria.
• Tabi....................adivinhador de 2a categoria.
• Nganga-a-ngombo.........adivinhador de 3a categoria.
• Kimbanda................feiticeiro ou curandeiro.
• Nganga-a-mukixi.........sacerdote do culto de possessão (Angola).
• Niganga-a-nikisi........sacerdote do culto de possessão (Kongo).
• Mukúa-umbanda...........sacerdote do culto de possessão (Angola-Kongo).
Divisão Sacerdotais no Brasil
Angola - língua quimbundo - Kongo - língua quicongo
• Mam’etu ria mukixi......sacerdotisa no Angola.
• Tat’etu ria mukixi......sacerdote no Angola.
• Nengua-a-nkisi..........sacerdotisa no Kongo.
• Nganga-a-nikisi.........sacerdote no Kongo.
• Mam’etu ndenge..........mãe pequena no Angola.
• Tat’etu ndenge..........Pai pequeno no Angola.
• Nengua ndumba...........mãe pequena no Kongo.
• Nganga ndumba...........pai pequeno no Kongo.
• Kambundo ou Kambondo....todos os homens confirmados.
• Kimbanda................Feiticeiro, curandeiro.
• Kisasba.................pai das sagradas folhas.
• Tata utala..............pai do altar.
• Kivonda.................Sacrificador de animais (Kongo).
• Kambondo poko...........sacrificador de animais (Angola).
• Kuxika ia ngombe........Tocador (kongo).
• Muxiki..................tocador( Angola).
• Njimbidi................cantador.
• Kambondo mabaia.........responsável pelo barracão.
• Kota....................todas as mulheres confirmadas.
• Kota mbakisi............responsável pelas divindades.
• Hongolo matona..........especialista nas pinturas corporais.
• Kota ambelai............toma conta e atende aos iniciados.
• Kota kididii............toma conta de tudo mantém a paz.
• Kota rifula.............responsável em preparar as comidas sagradas.
• Mosoioio................as (os) mais antigas.
• Kota maganza............título alcançado após a obrigação de 21 anos.
• Maganza.................título dado aos iniciados.
• Uandumba................designa a pessoa durante a fase iniciatória.
• Ndumbe..................designa a pessoa não iniciada.

Pureza Nagô
Mundicarmo Ferretti em "Pureza nagô e nações africanas no Tambor de Mina do Maranhão" escreve: "Os terreiros de religião de origem africana mais identificados com a África geralmente constroem sua identidade tomando como referência o conceito de “nação”, que os vincula ao continente africano, à África negra, através de uma casa de culto aberta no Brasil por africanos antes da abolição da escravidão (“de raiz africana”). No campo religioso afro-brasileiro, os terreiros Nagô mais antigos e tradicionais da Bahia foram considerados, tanto por pais-de-santo como por pesquisadores da área acadêmica, como mais puros ou autênticos e sua “nação” como mais preservada e/ou organizada. A partir do que foi convencionado na Bahia como “nagô puro”, têm sido avaliados terreiros nagô de outros estados das mais diversas denominações: Candomblé, Xangô, Mina, Batuque e outras. Analisando a questão da “pureza nagô”, Beatriz Góis Dantas (Dantas, 1988), apoiada em pesquisa realizada em Sergipe, mostra que, apesar da hegemonia do Candomblé nagô da Bahia na religião afro-brasileira, os indicadores de autenticidade africana ou “pureza nagô” adotados na Bahia nem sempre são os mesmos de outros estados e que traços muito valorizados no Candomblé da Bahia podem ser desvalorizados ou até rejeitados em terreiros de outras localidades."
A quase extinção
Fernandes, Gonçalves - autor do livro Xangôs no Nordeste, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1937, também é autor do livro O Sincretismo Religioso no Brasil, São Paulo, Guairá, 1941, que fala sobre a noite de 1 de fevereiro de 1912 nas ruas da cidade de Maceió onde houve cenas de muita violência, com a invasão e destruição dos mais importantes terreiros de Xangô de Alagoas.
O Sítio de Pai Adão foi tombamento pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE[1], e todo o conhecimento foi transmitido sucessivamente a Obalonein, Fatemi e Oluandê, para que finalmente fossem passados em Belford Roxo a Osunaloji (Pai Milton), que zela pela conservação e manutenção dessa tradição recebida, no Ilê Axé Agawere Xapanan. Em seu ilê (casa), cujo orixá patrono é Iemanjá, as novas gerações de filhos de santo recebem dele todo esse rico arsenal de cultura afro-brasileira, com fundamento na nação Nagô-Egbá. Liderado hoje por Manuel Papai e Maria das Dores ja falecida, juntamente Pai Raminho de Oxossi que incentiva os desfiles de Maracatu no Carnaval do Recife[2].
No Maranhão, a Casa Fanti Ashanti, em São Luís, nação Jeje-Nagô, babalorixá Euclides Menezes Ferreira (Talabian), (de Oxaguian c/Oxum) e Mãe Isabel de Xangô com Oxum. A raiz é do Sitio de Pai Adão, Nagô do Recife.
Em São Paulo, a iyalorixá Maria das Dores Talabideiyn deixou a seu filho Pai José Alabiy (José Gomes Barbosa), babalorixá do Ilê Axé Ajagunã Obá Olá Fadaká, a tradição Egbá, passada à sua filha Oya Dolu (Lorena de Santiago) iyalorixá do Ilê Axé Oya Tundê, juntamente com Baba Alajemi (Nilso Jorge Júnior), onde também se preservam os mais antigos fundamentos do Nago-Egba. Entre outros, destaca-se a iyalorixá Valdecir de Obaluaye que, sendo filha-de-santo de Osunalogi, traz consigo a tradição e cultura dessa grande raíz.

Ajala o modelador de ori

19 de março de 2015 ·
Àjàlá Mopin – O modelador de Orí

Afùwàpé, aquele que soube escolher o melhor Orí

Orí é a cabeça que norteia todos os seres-humanos e “Apéré” é seu suporte, por essa razão, sempre que louvamos Orí, evocamos também o seu suporte “Orí Apéré-oooooo!”, bem como o Orí Inú (encéfalo) “Orí Inú-oooo!” .

Acreditamos que “Àjàlá Mopin” é a Divindade à qual Olodúnmarè atribuiu a responsabilidade de “modelar” o Orí das pessoas. Muito embora Àjàlá seja habilidoso na “arte de moldar cabeças”, por vezes ele comete erros e então surgem os “Orí Buruku”, que são as “cabeças defeituosas”. Cremos que mesmo antes do nascimento, escolhemos nosso Orí, pedindo-lhe junto à Àjàlá Mopin. Essa “solicitação” é denominada “Àkúnlèyàn”, nesse momento o indivíduo “acorda” a sua permanência no Àyé, dentre outros aspectos de sua vontade. Isto posto, Àjàlá Mopin dá a pessoa aquilo que os yorùbás chamam de “Akúnlègbà”, que é na verdade uma espécie de “mola propulsora” para que os “desejos acordados” sejam realizados. Por fim, Àjàlá Mopin, concede “Àyànmò” que é a parte do destino que mesmo através da mediação dos Òrìsàs não será jamais alterada. Ou seja, “Àkúnlèyàn” e “Akúnlègbà” podem sofrer alterações ao longo da vida. Essas alterações são possibilitadas por meios de oferendas, as quais são vislumbradas através do oráculo ou pela “fala” dos Òrìsàs, entretanto, aquilo que fora determinado em “Àyànmò” jamais sofrerá mudanças.

A afirmação de que nós mesmos escolhemos nosso Orí é fundamentada através de um Itán, publicado por Abimbola, o qual diz que Ifá foi consultado para “Orísèékú”, “Orílèémèrè” e “Afùwàpé”. Quando eles foram escolher seus respectivos Orí junto à Àjàlá Mopin, o grande moldador de cabeças, Ifá determinou que eles fizessem sacrifícios de modo que escolhessem um bom Orí para o seus destinos. Orísèékú e Orílèémèrè ignoraram a recomendação de Ifá e, somente Afùwàpé fez o que lhe fora designado. Como consequência, Afùwàpé teve muita sorte e prosperidade em sua vida, haja vista que, graças aos sacrifícios realizados, ele escolheu o “Orí certo” (Orí Réré). No entanto, Orísèékú e Orílèémèrè, que não seguiram a determinação de Ifá não tiveram a mesma sorte.

Abaixo, transcrevemos uma variante do Itán de Ifá, respeitante a saga de Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé rumo à Terra.

“Ifá foi consultado para Orísèékú, o filho de Ògún, para Orílèémèrè, o filho de Ìjá e para Afùwàpé, o filho de Òrúnmìlà, no dia que eles iam para a casa de Olódúnmarè escolher suas cabeças. Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé eram amigos, um dia eles se reuniram e decidiram que iriam para a Terra e lá, eles se estabeleceriam e seriam prósperos, sendo que, para eles, a Terra seria um lugar melhor do que o céu.

Eles pediram conselho aos Àgbàlágbà (anciões), que disseram que antes deles viajar, eles deveriam ir até Àjàlá escolher suas cabeças. Eles foram advertidos assim: “quando vocês forem, vocês não devem virar à direita, e nem ir diretamente para a casa de Àjàlá, até mesmo se um de vocês ouvir a voz do pai, vocês não devem ir diretamente para a casa de Àjàlá”. Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé, prometeram aos Àgbàlágbà que atenderiam as advertências. Depois de caminhar por muito tempo, eles encontraram Afabéré-Gúnyán (“aquele que bate inhames com uma agulha pequena”). Eles disseram: “Pai, nós o saudamos”! O pai respondeu: “obrigado”! Orísèékú, Orílèémèrè e Afùwàpé questionaram como chegar até a casa de Àjàlá. Afabéré-Gúnyán disse que eles tinham que terminar de bater o inhame dele primeiro, depois ele mostraria como chegar até lá. Afùwàpé levou a agulha dele e começou a bater os inhames com isto, durante três dias. Quando ele terminou de bater, Afabéré-Gúnyán disse que eles podiam ir, que depois de caminhar mais um pouco, eles deveriam virar à direita, onde encontrariam o Oníbodè (guardião). Eles deveriam perguntar ao Oníbodè como chegar até a casa de Àjàlá.

Depois de caminharem por algum tempo, eles chegaram, Orísèékú, o filho de Ògún, ficou imóvel, ele ouviu a voz do pai dele, solicitando-o para guerra. Então, Orísèékú pegou suas armas para ajudar seu pai. Orílèémèrè e Afùwàpé o advertiram, dizendo que eles não deveriam ouvir nem mesmo aos seus pais, conforme orientação dos Àgbàlágbà. Eles então, continuaram sua viajem até a casa de Àjàlá. Após terem caminhado por um longo período, eles ouviram Òrúnmìlà, que golpeava o Opon Ifá com seu Iroke, fazendo um grande barulho. Afùwàpé, seu filho, ficou imóvel. Então, os outros dois companheiros exigiram que ele não parasse. Afùwàpé disse que ele não iria até ver o pai dele. Eles o fizeram lembrar da advertência, mas Afùwàpé, recusou abruptamente, insistindo que ele tinha que ver seu pai. Afùwàpé foi até Òrúnmìlà, enquanto Orísèékú e Orílèémèrè prosseguiram a viajem. Quando Òrúnmìlà viu Afùwàpé, ele lhe perguntou aonde ia. Afùwàpé disse que ele ia para a Terra. Òrúnmìlà, então, foi consultar o oráculo para o filho. O destino que se apresentou foi Ogbèyónú. O Oráculo disse: “Òrúnmìlà, seu filho vai fazer uma viagem para a Terra, para ele escolher uma cabeça boa, ele deverá fazer sacrifícios”. O que ele deve sacrificar, questionou Òrúnmìlà. “Ele deve oferecer duas bolsas de sal e doze mil búzios”. Òrúnmìlà ofereceu todos os materiais e o sacrifício foi realizado. As duas bolsas de sal e os doze mil búzios foram dados a Afùwàpé. Eles falaram que Afùwàpé procedesse na viagem. Quando Afùwàpé saiu da casa de Òrúnmìlà, ele nem não viu Orísèékú nem Orílèémèrè, eles já tinham ido embora.

Quando Orísèékú e Orílèémèrè alcançaram o Oníbodè, perguntaram-lhe como chegar à casa de Àjàlá. O Oníbodè disse que a casa de Àjàlá era muito longe, senão fosse por isso, ele os levaria até lá. Eles ficaram com muita raiva e perguntaram para outras pessoas, até conseguirem chegar à casa de Àjàlá. Quando lá chegaram, eles não o encontraram e esperaram por dois dias, como Àjàlá não retornou, eles resolveram falar com as pessoas que moravam lá. Disseram que eles haviam vindo escolher suas cabeças, sendo que estavam indo para a Terra. As pessoas da casa mostram-lhes muitas cabeças disponíveis na “loja de Àjàlá”. Quando Orísèékú entrou, ele escolheu uma cabeça feita recentemente que ainda não havia sido “levada ao forno”. Quando Orílèémèrè entrou, ele escolheu, sem perceber, uma cabeça defeituosa. Orísèékú e Orílèémèrè vestiram suas cabeças de barro e foram rumo à Terra. Restando poucos dias para chegarem, uma forte chuva caiu sobre Orísèékú e Orílèémèrè, essa chuva perdurou por muito tempo e as cabeças deles, começaram a se desfazer, ficando apenas um pequeno plano e assim eles chegaram. Na Terra, eles trabalharam muito, no entanto, eles perdiam tudo o que ganhavam e esse cenário se manteve por uns dez anos, sem qualquer sinal de melhora. Eles resolveram, então, consultar Ifá que através do oráculo disse que tudo que estava acontecendo, era em função das cabeças ruins que eles haviam escolhido e perguntou: “Quando vocês estavam vindo para Terra, vocês foram atingidos pela chuva?” Eles responderam: Sim, nós fomos! Ifá disse: “Quando vocês estavam vindo para Terra, vocês escolheram cabeças ruins! Vocês escolheram cabeças que ainda não haviam sido levadas ao forno. Vocês foram atingidos pela chuva e as cabeças ruins que vocês escolheram, ficaram danificadas, em pedaços, por isso, tudo o que vocês ganham, vocês perdem, sendo que tudo o que vocês conseguirem, será para restabelecer a forma de suas cabeças”…

Afùwàpé também continuou sua viagem à Terra, depois de ter caminhado por algum tempo, ele chegou até o Oníbodè e lhe perguntou como fazer para chegar à casa de Àjàlá. O Oníbodè disse que lhe mostraria depois, primeiro, ele iria preparar sua comida. Assim, Afùwàpé se sentou e pacientemente ajudou o Oníbodè. Quando Afùwàpé estava ajudando acender o fogo, ele notou que o Oníbodè estava colocando cinzas na sopa. Ele disse: “você está colocando cinzas na sopa”. O Oníbodè disse que isso era o que ele sempre comeu. Afùwàpé colocou na sopa, um pouco do sal, que havia trazido consigo e pediu que o Oníbodè provasse aquilo. O Oníbodè ficou impressionado com o gosto e, implorou mais daquela iguaria à Afùwàpé, que concordou, dando-lhe as duas bolsas de sal. Quando eles terminaram de preparar a sopa, Oníbodè se levantou, conduzindo Afùwàpé até a casa de Àjàlá. Quando estavam chegando, eles ouviram alguém gritar. Oníbodè disse que aquele barulho vinha da casa de Àjàlá e que ele não estava em casa, sendo que aquele barulho era provocado por um credor à sua procura e, sempre que o credor aparecia, Àjàlá se escondia.

O Oníbodè disse à Afùwàpé que se ele tivesse dinheiro, ele deveria ajudar Àjàlá a pagar suas dívidas. Quando Afùwàpé chegou à casa de Àjàlá, ele achou o credor gritando, relinchando como um cavalo. Afùwàpé indagou quanto Àjàlá lhe devia. O credor disse que eram doze mil búzios (nesse aspecto, cabe lembrar que àquela época, os búzios eram moedas correntes). Afùwàpé pegou os doze mil búzios, que havia trazido consigo, e pagou o credor de Àjàlá, quitando toda a sua dívida. Quando o credor foi embora, Àjàlá saltou do teto, onde havia se escondido e, cumprimentou Afùwàpé. Ele perguntou se Afùwàpé achou alguém na casa. Afùwàpé disse: “Sim, achei! Essa pessoa disse que você lhe devia doze mil búzios, então, eu paguei toda a sua dívida”. Àjàlá, muito contente, agradeceu Afùwàpé e lhe perguntou o que ele vinha fazer em sua casa. Afùwàpé disse que ele tinha vindo escolher uma cabeça, pois estava à caminho da Terra. Àjàlá pediu-lhe que viesse depois de certo tempo. Passado o tempo pedido por Àjàlá, Afùwàpé retornou e foi escolher sua cabeça. Àjàlá lançou uma vara férrea em muitas cabeças e todas ficavam em pedaços. “Está vendo Afùwàpé, essas cabeças não são boas”! Após muitas cabeças em pedaços, Afùwàpé escolheu uma. Quando Àjàlá lançou a vara de ferro, a cabeça deu um salto, caiu no chão e ficou rodando sem se desfazer. Àjàlá disse que aquela sim era uma boa cabeça e deu à Afùwàpé, que a fixou, dirigindo-se rumo à Terra.

Quando Afùwàpé estava chegando na Terra, uma forte chuva caiu sobre sua cabeça, a chuva era tão forte e intensa que Afùwàpé quase ficou surto, no entanto, sua cabeça permanecia firme, igual quando havia sido retirada da casa de Àjàlá. Ao chegar na Terra, Afùwàpé começou a comerciar, ele fez bastante lucro, ele construiu uma casa e enfeitou sua porta. Ele teve muitas esposas, ele teve muitos filhos. Depois de algum tempo, ele recebeu o honroso título de Orísanmí. Orísèékú, o filho de Ògún e Orílèémèrè, o filho de Ìjá, lamentaram-se à Afùwàpé. “Onde você escolheu sua cabeça? Porque não nos falou onde escolheria sua cabeça?”. Afùwàpé, por sua vez, disse que eles haviam escolhido suas cabeças, todos em um mesmo lugar, o que os diferenciavam era, o destino”.

“Ajalá modela a cabeça do homem

Odudua criou o mundo,
Obatalá criou o ser humano.
Obatalá fez o homem de lama,
com o corpo, peito, barriga, pernas, pés.
Modelou as costas e os ombros, os braços e as mãos.
Deu-lhe ossos, pele e musculatura.
Fez os machos com pênis
e as fêmeas com vagina,
para que um penetrasse o outro
e assim pudessem se juntar e se reproduzir.
Pôs na criatura o coração, fígado e tudo o mais que está dentro dela,
inclusive o sangue.
Olodumare pôs no homem a respiração
e ele viveu.
Mas Obatalá se esqueceu de fazer a cabeça
e Olodumare ordenou a Ajalá que completasse
a obra de Oxalá.
Assim, é Ajalá quem faz as cabeças dos homens e das mulheres.”

O povo Yorùbá acredita que Obatala (a maior divindade cultuada entre os yorùbá, o primeiro ser divino criado, conhecido por Òòsàálá) modela o homem do barro do òrun (mundo espiritual), ou seja, ele cria o homem, com elementos do próprio òrun, porem em momento algum diz que ele cria mulas sem cabeça, este conceito turvo, surgiu em determinado momento em que os africanos vieram para o Brasil discursar sobre a criação do mundo e os seres humanos.

Assim que os africanos comentaram que o homem recebe um ara (corpo) e segue para buscar sua “Orí” (cabeça), logo os brasileiros entenderam e registraram o maior erro da história da cultura afro-brasileira, ou seja, nasceram as mulas sem cabeça.

Porem o erro foi que não esperaram para que fosse devidamente explicado, é que Orí é abstrato, tal quais os Odù (são considerados os pensamentos de Olorun, o senhor do òrun, odù seria caminhos ou conhecidos por destinos) que são energias mutáveis e cultuáveis, sem que tenham manifestações diretas e possuam um corpo.
Entre muitos erros de conceitos este acima é o pior, que faz com que o homem seja criado como a mula sem cabeça, para mais tarde buscar orí na casa de Ajalá, mas como ele iria buscar a sua cabeça na casa de Ajalá sem que ele tivesse cérebro, ou, uma mente para pensar e desejar...

Todos sabem que Ajalá realmente é o oleiro do òrun, que possui poder de modelar orí, estas que estão ligados aos Odù e variados destinos, por isso, que o culto a orí é individual e em momento algum veremos igual à outra e ou a manifestação de nem uma delas, mesmo sendo uma divindade de suma importância para cada ser humano, tanto que é cultuado antes mesmo da feitura do òrìsà, e ao contrario do que se acredita aqui no Brasil, o indivíduo não pertence a um òrìsà, na verdade quem determina e ou deve ser responsável por aquele individuo sempre será “orí”, nem uma divindade terá poder sem que orí sancione.

“Quando alguém está para nascer,
vai à casa do oleiro Ajalá, o modelador de cabeças.
Ajalá faz as cabeças de barro e as cozinha no forno.
Se Ajalá está bem. faz cabeças boas.
Se está bêbado, faz cabeças mal cozidas,
passadas do ponto, malformadas.
Cada um escolhe sua cabeça para nascer.”

Realmente há possibilidade do indivíduo pegar orí deformada, por isso, que é feito o ritual do Ebori, para que possa tratar orí e ao mesmo tempo rever seus votos, desejando novos caminhos, para isso, o indivíduo deve passar por determinados rituais e preceitos.
Outro ponto a discutir é o fato de se ter ou não um igba-orí (recipiente de louça, contendo alguns fetiches representando orí), nem todos os indivíduos precisam ter um igba-ori, o sacerdote pode muito bem dar um Ebori, sem que seja preciso manufaturar um igba-ori.

Então porque se ter um Igba-ori, se não há necessidade de ter um igba-ori, para cultuar esta divindade abstrata tão importante?

Muitas vezes um indivíduo, quer apenas dar um Eborí sem criar vínculos com a casa, nada impede que uma pessoa possa fazer isso, porem para aqueles que desejam seguir o culto a òrìsà, ou, os rituais yorùbá, pode manufaturar um igba-orí, para que possa tratar e cultuar o seu òrìsà individual com maior detalhes.

“Cada um escolhe o ori que vai ter na terra.
Lá escolhe uma cabeça para si.
Cada um escolhe seu ori.
Deve ser esperto, para escolher cabeça boa.
Cabeça ruim é destino ruim,
cabeça boa é riqueza, vitória, prosperidade, tudo que é bom. ”

Outro equivoco, pois o individuo não tem como saber o que contém um orí até que chegue no aiye (plano físico), desta forma, não há como ele escolher uma boa cabeça, nem ser esperto com algo que ele não possui este direito, pois segundo a cultura yorùbá, a indisciplina de Ajalá é clara, pois ele não consegue criar todas as cabeças perfeitas, porem pode escolher uma boa, se o indivíduo fizer uma paga para ele, mas como um indivíduo poderia fazer um ebo (oferenda) se ele não possui elementos para isso no òrun, caso fossem assim não haveria pessoas com orí problemáticos.

Por isso, acredita-se que a família do indivíduo que irá nascer pode auxiliar, consultando o oráculo para descobrir um ebo para oferenda para aquele indivíduo que está para nascer. Porem de qualquer forma há possibilidade de através do culto ao orí de melhorar a condição do orí daquele indivíduo através do Eborí.