quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Mito da formação do mundo na visão ioruba

19 de março de 2015 ·
OS MITOS

São várias as versões dos mitos dos orixás e, como em todos os mitos, algumas são
incompatíveis entre si; mas a essência dos orixás pode ser perfeitamente absorvida através
destas narrativas. Para os iorubás, a melhor representação do mundo é uma cabaça dividida ao
meio, uma das metades constituindo o céu (orum, Obatalá), e a outra a terra (ayê, Odudua). No
princípio de tudo, entretanto, não havia a terra, e os orixás viviam no orum, ao redor de
Olorum, o senhor do Universo, secundado por Obatalá. Obatalá uniuse a Odudua e tiveram
dois filhos: Aganju, a terra firme, e Iemanjá, as águas dos oceanos.
Outro mito diz que a terra era então um vasto oceano e os orixás desejavam conhecêlo.
Obatalá encarregou Oxalá de descer ao ayê, a metade inferior da cabaça, e espalhar o pó preto
que formaria a terra firme. Entregou a ele o saco com o pó preto e uma galinha. Oxalá então
partiu em viagem, mas no meio do caminho sentiu sede. Exu, vendo que Oxalá sentia sede,
ofereceulhe vinho de palma e Oxalá bebeu. E tanto vinho que Oxalá que embriagouse e caiu
em sono profundo. Exu tomou de Oxalá o saco da criação e o levou a Obatalá, a quem contou
que Oxalá beberá e negligenciara sua tarefa.
Obatalá então entregou o saco a Odudua, que com ele desceu à terra, jogou o pó preto
sobre o oceano e tornando se ela mesma uma galinha, ciscou o pó preto até que se formaram os
continentes e toda terra firme que há.
Essa terra firme é Aganju, filho de Odudua e Iemanjá. Obatalá então criou um grande
dendezeiro, pelo qual desceram à terra todos os orixás, cada um escolhendo uma parte do
mundo que lhe agradava, e que passou a ser de seu domínio.
Assim, Oxum e Obá escolheram as águas doces; Iansã quis os ventos; Xangô os trovões e
as cachoeiras; Obaluaiê à terra firme; Nanã a lama dos fundos dos rios e os abismos; Ogum quis
as montanhas e os minérios; Oxossi as matas e florestas; Oxumarê o arco – íris; Ewá os
horizontes. Apenas Exu não sabia o que escolher, pois tudo e nada lhe agradava. E considerouse
assim dono de tudo um pouco, com que os demais orixás concordaram. Desse modo o mundo
foi criado e dividido entre os orixás, e é por isto que cada um detêm o domínio de uma parte da
natureza.
Outro mito narra que Obatalá reuniu todos os materiais necessários à criação do mundo
e mandou a estrela da manhã convocar todos os orixás. Apenas Orunmilá apareceu. Por isso
Obatalá o recompensou, permitindo que apenas ele conhecesse os segredos da criação e do por
vir. E foi assim que a estrela da manhã revelou a Orunmilá que todos os segredos e materiais da
criação se encontrava numa concha de caramujo, dentro de um vaso que ficava entre as pernas
de Obatalá.
Orunmilá tornouse então, dono dos segredos, das magias e conhecedor do futuro, das
vontades, aquele que sabe a vontade de Obatalá e de todos os orixás, o que sabe com que
matéria o homem foi feito.
Outro mito narra que tendo tido o conhecimento das matérias da criação, teria sido
Orunmilá e não Odudua o criador da terra, aquele a espalhar o pó preto sobre as águas.
Orunmilá então é considerado o amigo de Obatalá. Quis então Obatalá criar os homens. Ajalá,
o orixá oleiro foi incumbido de moldar as cabeças dos rios e outros elementos da natureza.
Ajalá moldava as cabeças e as punha para assar em seu forno. Mas Ajalá tinha o hábito
de embriagarse enquanto cozia o barro e criou muitas cabeças defeituosas, queimando algumas
e deixando outras com o barro cru. Depois que Ajalá terminava de fazer os oris (cabeças)
Obatalá soprava nelas e lhes dava eni, a vida.
Assim surgiram a terra e os homens, sob o domínio dos orixás. Cada orixá viveu então
episódios diversos em sua história, dos quais narraremos aqui apenas alguns, pois a quantidade
de versões dos mitos é praticamente infinita

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