QUALIDADES
DE ÒRÌSA...!?
Olá
amigos!
Primeiramente, agradeço o prestígio
de suas presenças para conhecerem um pouco do meu trabalho e das minhas idéias.
Alguns leitores antigos, que já me
conhecem, estão acostumados com a minha maneira de ser, polêmica e
irreverente. Isto, porque procuro
externar minhas idéias e meus pensamentos, às vezes sutis, às vezes jocosa e
agressivamente. Como todo filho de Ògún, sou contestador e também, bem teimoso
com relação às minhas idéias, mesmo que contrariando tudo ou a todos. Se, é
positivo ou negativo, não sei. Deixo para que as outras pessoas decidam.
Essas minhas contestações não são
gratuitas, mas sim, elas visam tão somente pensar ou repensar algumas coisas que
nos foram passadas, como produtos acabados e imutáveis. Então, penso sobre
algumas dessas coisas. As minhas conclusões tiro para mim mesmo. Não querendo
fazê-las descer de goela abaixo nas outras pessoas. Reconheço o direito de todos a terem suas
próprias opiniões e discordarem das minhas; assim como, reivindico o meu direito
de também discordar e ter meus próprios conceitos. E também ainda, de chamar a
atenção das outras pessoas, que como eu, têm dúvidas e questionamentos acerca da
nossa Religião.
Não desejo afrontar ninguém, quero
tão somente colocar aqui o meu pensamento particular a respeito das tão faladas
“Qualidades de òrìsà”, que eu friso com (...!?), para ressaltar minhas dúvidas sobre isso. E, como já dizia o nosso
saudoso Abelardo Chacrinha: “Eu não vim para explicar, eu vim para confundir...”
(no bom sentido, para dar motivos para que outras pessoas pensem a respeito).
Segundo os conceitos Yorùbá, o
Òrìsà é uno, para eles não existem as tão chamadas
“qualidades” que temos aqui no Brasil. Lá, eles cultuam um òrìsà
em cada casa separadamente. Tendo casas, onde somente se iniciam filhos de Ògún;
outras somente de Sòngó, outras ainda, somente de Òòsààlà,
e assim por diante, etc. Esses rituais de iniciação são feitos no templo do
òrìsà, onde fica um assentamento comum a todos, chamado de
Ojubo. Não existem igbá individuais. Para eles, se for assentado mais de um igbá,
a força será divergida e dividida entre esses igbá. Ao passo que, se todos os rituais forem
feitos num único igbá ou ojubo, essas forças convergirão e se
somarão. Aumentado assim o àse
para a casa e para todos.
Ainda, nos festivais em louvor aos
òrìsà, quando da incorporação desses òrìsà, esta se fará num único
filho, não importando quem quer que seja. Então, numa multidão ninguém sabe quem
será o escolhido para incorporar aquele òrìsà. E quando isso acontece,
todos os demais filhos respeitam e aceitam aquele transe como o único; porque
aquele foi o filho escolhido pelo òrìsà para manifestar-se.
Ao virem para o Brasil como escravos
os nossos antepassados trouxeram consigo o culto aos òrìsà. E com o passar dos anos a religião foi se
enraizando aqui. E durante esses séculos
que se passaram, desde a chegada dos negros com sua religião até os dias atuais
muitas coisas se perderam, tais como: rituais diversos e a própria língua
Africana Mãe, diluindo-se quase que totalmente atualmente, onde a grande maioria
das pessoas, da religião, não tem conhecimento da língua ritual. E isso ensejou uma série de equívocos, tais
como “qualidades de òrìsà”.
Alguns òrìsà que eram
cultuados antigamente e cujos cultos se perderam no tempo, em grande parte, pelo
famigerado “segredo”, que só serviu para nos legar uma grande dose de
ignorância sobre a nossa própria religião; perderam seus cultos individuais e
passaram a serem cultuados como espécies de outros òrìsà assemelhados.
Como: no caso de Airá, que não é qualidade de Sàngó;
Ògunte, que não é qualidade de Yemonja; Òpàrà, que
não é qualidade de Òsún; Erìnle,
que
não é qualidade de Òsóòsì; Sòrókè, que não é qualidade de
Ògún; Gbálè e Oníra, que não são qualidades de Oya;
etc. Alguns desses òrìsà tinham cultos semelhantes aos destes
outros, então, o brasileiro os inseriu como iguais e assim ficou. Ou que ainda é
simplesmente um oríkì pelo qual o òrìsà é chamado, e pelo
desconhecimento da língua Yorùbá, acabaram virando mais “qualidades”.
Poderíamos
citar inúmeros exemplos, mas, citaremos os mais comuns dentre nós, como
“Qualidades”, hoje falando de Èsù.
Èsù
é um òrìsà quiçá, o mais importante no panteão Yorùbá. Tudo e todos
necessitam da intervenção de Èsù, para executarem “n” tarefas. É aí que
entram com as tais qualidades, mas, que não passam apenas de funções diversas
exercidas por Èsù. Temos algumas como:
Èsù Elégbára:
Significa
literalmente, Èsù Senhor da força ou do poder, o qual ele detém
incontestavelmente, de quem todos os demais òrìsà necessitam para
executarem seus feitos. Não é qualidade, é um oríkì pelo qual ele é
chamado.
Èsù
L’ònòn:
Èsù
no caminho, local onde ele mora na orítà metá (encruzilhada).
Èsù
Ònòn ou Olóònòn
Èsù
do caminho, Senhor dos caminhos, o Senhor das estradas, função em que ele abre
ou fecha os caminhos; a quem pedimos licença para transitar tudo o que desejamos
inclusive a nós mesmos. Ele é o Oníbodè (O Porteiro),
Oníbodè-òrun (O Porteiro do Céu); ou Olútójú (O guardião, o
Vigia), que revista a todos que transitam por aquela porta onde ele está de
guarda.
Èsù
Elébo:
O
Senhor das oferendas, função em que ele é o dono das oferendas recebidas ou que
as transporta aos demais òrìsà, com os nossos pedidos de bênçãos e benesses.
Èsù
Òdára:
A
função exercida quando ele nos traz tudo de bom, bem como as respostas dos
òrìsà aos nossos rogos, sempre é mensageiro de coisas e notícias boas.
Èsù
Òjíse:
O
Mensageiro,
função em que ele faz a comunicação entre o ayé e o òrun,
entre os seres humanos e os ara-òrun. Também levando os nossos
pedidos e retornando com as respostas dos òrìsà. É também chamado de Òjíse
Ebo (O Mensageiro das Oferendas).
Èsù
Elérù:
O
Senhor do carrego,
quando ele despacha tudo aquilo que não queremos, para que vá para longe de nós,
os males diversos como: morte, ruína, doenças, perdas, negatividades,
etc.
Estas e muitas outras denominações de Èsù são apenas para especificar
qual a função que ele exerce naquele momento, ou em definitivo.
Admite-se até que existe o Èsù Bára (Èsu do
Corpo), o Èsù individual que mora dentro de cada pessoa.
Neste caso, no fundo é o mesmo Èsù, que de acordo com a lenda do
nascimento de Èsù, parido por Yèmòwò esposa de Òòsààlà,
e que logo ao nascer come todos os seres vivos do ayé, e quando tudo
se acaba, ele ainda continua com fome e tanto faz que termine por comer sua
própria mãe, que se deixa devorar apenas para alimentar o filho.
Òòsààlà, seu pai neste
ìtàn, ao vê-lo comer a própria mãe, enfurecido puxa de sua espada e
persegue-o para matá-lo. Ao alcançá-lo, Òòsààlà desfere um golpe e
parte Èsù ao meio. Ao invés de morrer, ele se transforma de dois.
Então, Òòsààlà desfere outro golpe cortando os dois; que se
transformam em quatro, e assim sucessivamente, até serem tantos que ocuparam
quase todo o espaço do ayé. Então, para que aquilo terminasse,
Èsù fez acordo em que prometeu a Òòsààlà, que
restituiria tudo o que fora comido. Tudo aquilo que ele recebera como oferenda,
seria restituída em forma de retribuição a estas oferendas por ele recebidas.
“Nesse ìtàn ele comeu todas as criaturas vivas, todas as frutas, todas as
sementes, todos os vegetais e bebeu toda a água, otí, emu; daí lhe ser
atribuído o termo:” “ boca que tudo
come”, e é por isso também, que ele recebe qualquer coisa como oferenda.
E, como Èsù se dividira
tanto, tanto; ficou também com a incumbência de cada uma de suas “cópias”
ficarem como protetora do corpo de cada ser humano que fosse moldado por
Òòsààlà. Portanto, o nosso
Bára é ao mesmo tempo o nosso Èsù individual, porque vive
dentro de nós. Mas, ele também é apenas uma parte do todo de Èsù
que foi dividido; sendo assim, o primogênito que se dividiu “n” vezes, mas que,
cada subdivisão é apenas uma pequena parte de um todo, que é o próprio
Èsù.
texto de altair togun
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